segunda-feira, dezembro 05, 2011

Quando não dá mais tempo


Por Nathalia Moraes

    Passei a minha vida toda sendo muito legal com quem eu gostava, e não me interessava se a pessoa era legal comigo, eu simplesmente não queria carregar o peso de me arrepender depois, sempre tive a convicção tranquila de que nunca perderia nada por falta de amor. Sempre ouvi todo mundo dizer por aí: "As pessoas só dão valor quando perdem", e eu não queria fazer parte desse grupo de pessoas, me interessava mais dar valor enquanto era tempo, mesmo que não houvesse uma troca sincera.
     E se acham que a vida é justa com quem pensa assim, ah, mas que tremendo engando. Sabe o que eu sempre consegui com isso? Muito tapa na cara, muita traição, decepção e todo o resto do pacote que quem valoriza os que não têm valor algum recebe em troca de ser legal. E sabem o que é pior? Não me arrependo, mesmo, nadinha por lágrima nenhuma, muito menos depois de reencontrar meu ex.
     Para não fugir a regra, o fulano agiu como os outros, sem grandes diferencias, e olha que tinha uma chance enorme de ser feliz ao meu lado, viu? Porque ao mesmo tempo que eu sou chata, ciumenta e boba, sou a pessoa mais carinhosa do mundo, meus ouvidos não cansam nunca, tenho uma paciência sem tamanho, sou bem humorada, sem frescuras e o mais importante, quando eu amo, é de verdade. Mas essas coisas todas não são o suficiente para algumas pessoas, e ele era uma dessas.
    Mas, como eu não sou de misérias quando o assunto é amor, me jogo mesmo, sem medo, vou e amo. Foi isso que eu fiz, fui e amei. E ele, não deu valor. Não é o valor que eu mereço, sabe? É o valor que o amor tem, e para ele, meu amor não tinha valor. Mas mesmo assim, eu estava lá... tentei o quanto pude carregar o amor dentro de um coração só, mas chega uma hora que não dá, a gente precisa dividir, tem que amar em rua de mão dupla, e quando chega essa hora eu não sou de insistir muito não. Apesar de não economizar, fui aprendendo a não disperdiçar.
     Não pensem que é fácil, pelo contrário, é sofrido, doloroso, quem sente, sente muito. Ter de sair sem olhar para trás, aceitar o dia de amanhã sem a presença do outro, não é fácil. E é aí que o amor próprio entra, é exatamente nessa hora que ele se permite ser um pouquinho egoísta e te faz aguentar, você chora no começo, mas a cada dia que passa, tudo vai ficando mais leve, até que chega um dia que já não pesa mais, e você consegue dormir uma noite inteira sem pensar em mais ninguém que não seja você mesmo.
     Esse dia chegou, sem eu perceber, só fui me dar conta quando encontrei meu ex, sem querer nos trombamos numa dessas segundas corridas, no intervalo do trabalho para academia, cada um de um lado da rua, esperando o sinal abrir. Confesso que deu uma confusão mental, fiquei em dúvida entre não atravessar, ou passar e fingir que não vi, até que o sinal abriu e eu fui em direção a ele, e ele ficou parado, me esperando, abriu um sorriso enorme e já veio me abraçando. Juro que se fosse antes, meu coração ia quase sair pela boca, minhas pernas movimentariam-se descontroladas, minha boca ficaria seca, me faltariam as palavras. Nada disso, nos soltamos do abraço, ele me achando linda e eu apenas sorrindo, sorriso tranquilo, de quem está com o coração em paz. Nos despedimos depois de meia dúzia de palavras comuns, e quando virei as costas, sem sentir vontade nenhuma de voltar e pedir para ele ficar comigo, foi que percebi, eu não queria mais, tinha passado, sem culpas, sem dor, apenas tinha passado.
     Porém, acho que não foi o que aconteceu com ele, mal cheguei em casa e lá estava uma mensagem dele, e essas mensagens multiplicavam-se a cada dia, e eu via o que eu sempre sonhei, ele se declarando. Como essas coisas são engraçadas, né?! Tempos atrás eu daria minha vida para ouvir o que ele me dizia agora, era tudo o que eu mais queria, era o que eu desejava com os olhos fechados antes de dormir, e agora, nada mais fazia sentido. Aquelas palavras todas não passavam de palavras. No fundo eu achei aquilo incrível, com um pinguinho de vingança escorrendo pelo cantinho da boca, era como se meu cérebro gritasse: "agora sofre, meu filho, aguenta a dor de amar sem resposta, perdeu".
     Eu estava, sem querer, dando o troco sim, mas não era só isso, não era só uma vitória pessoal, significava muito mais. Ele não tinha apenas me perdido, ele estava sendo apresentado a um sentimento nada agradável, o do arrependimento, coisa que nem de longe eu sentia nesse momento. Fui de verdade o quanto pude, até o fim, até agora. Não senti medo de amar, de me envolver, de criar laços. Ouvi meu coração, me joguei, entrei de cabeça e fui como sou, intensa até o fim.
    Já o rapaz se atrasou, agora não dava mais tempo e deve doer quando não dá mais tempo. Deve ser doloroso, maior até que aquela minha dor do começo, perceber que você fez errado, que deixou escapar o que poderia ter segurado com um abraço, porque ele teve chances, e não foram poucas, mas não soube aproveitar, e perceber isso deve encomodar, deve encomodar muito, porque é nessa hora que você não tem para onde correr, não tem em quem depositar a culpa, tem ela todinha para te corroer.
    Não adianta, as coisas são assim, se não fosse nessa história, seria em outra. Prefiro continuar acreditando que as pessoas, de uma forma ou outra, vão aprender um dia, que o tempo pode ser seu amigo, mas nem sempre. É preciso ter cuidado, cuidado para não fazer parte do grupo de pessoas que só dão valor quando perdem. E é por isso que eu não me arrependo de amar, de ser legal com quem eu gosto, porque eu ainda prefiro a dor de não ser amada ou valorizada o quanto eu acredito que mereço, nesse caso a culpa não é minha, eu não posso exigir o sentimento de ninguém, faço a minha parte e espero que o outro faça, e se não fizer, passa. Agora a culpa de ter perdido alguém, seja lá por medo, aversão a envolvimentos, ou idiotisse mesmo, essa eu estou livre de carregar.
   
   
   

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