quinta-feira, dezembro 22, 2011

Carta ao Bom Velhinho



Por Nathalia Moraes


         Querido Papai Noel, 
devemos sempre começar assim as cartas ao senhor? 
         Bom, não sei se vai se lembrar de mim, faz uns bons anos que não te escrevo mais, mas esse ano decidi mandar minha carta, falando nisso, já está mais do que na hora de criar um e-mail, né? Não sei, mas sempre achei que com tantas cartas empilhadas, alguma sempre deva escapar e se perder, e tem mais, não sei se confio nesse sistema, o Polo Norte é muito longe, nunca soube de ninguém que mandou cartas para aí, sem ser para você. Pense nisso, talvez algum de seus ajudantes possa te ajudar.
          Claro que não foi esse o motivo que me fez esquecer a idade que tenho e te escrever, acho que agora que estou mais velha, já podemos ter uma conversa séria e até quem sabe, definitiva, né?! Precisamos colocar os pingos nos is.
          O que acontece é que desde criança, me fizeram acreditar em você, nas renas puxando o trenó, nos duendes ajudantes, que você entra pela chaminé, em ser boa menina, fazer tarefa e escovar os dentes para ganhar o presente que eu queria, mas enquanto me enchiam a cabeça com essa fantasia, não pensaram que um dia eu ia descobrir que era mentira e isso me deixaria arrasada, porquê foi assim. Não foi fácil perceber que é impossível um senhor de barbas brancas, sair do Polo Norte e chegar até a minha casa, em cima de um trenó puxado por renas. 
           Tá, agora você me pergunta porquê eu tô escrevendo então se não acredito mais em você, e eu te respondo, talvez eu ainda acredite. Porquê não é tão difícil pra uma pessoa que acredita nos seres humanos de bom coração, acreditar que você exista, sabe? Pode ser que não nesse contexto americanizado, mas vai que você existe, né?! Não custa  tentar. Por isso passei o dia todo pensando em que colocar na minha listinha de presentes - não se assuste - lá vai.
            Quero vida boa. É, é isso... quero vida boa, sabe? Vida onde a gente é feliz por completo, não que eu não seja, mas é diferente. Quero sorrisos sinceros, risadas sem fim, barriga e maxilar doendo, ar faltando de tanto dar risada. Quero mais tempo com os amigos, os velhos, os novos, os que estão por vir. Quero ver mais filmes, comendo pipoca, brigadeiro e refrigerante, sem precisar me preocupar com as gordurinhas. Quero ouvir mais músicas boas no último volume, cantando alto, sem vizinho reclamando. Quero mais tempo com a minha cama, dormir e acordar de bom humor, quero mais gente de bom humor perto de mim. Quero pessoas que dão mais valor a coisas simples, quero mais cachoeira e menos shopping, quero menos salto e mais pé descalço. Quero mais almoços de domingo com a família reunida, com a criançada correndo, todo mundo falando junto, muita comida boa - coisa de família italiana, sabe como é. Quero mais gente sincera, sincera com os outros, sincera com elas mesmas. Quero mais gente do bem, de bom coração, de alma clara, de sorriso aberto no rosto. Quero mais amor, amor ao próximo, amor próprio, amor de verdade, quero amar, ser amada, amores bem resolvidos, sem traumas, sem mentiras. Quero vida a dois, escova de dente no mesmo potinho, quero mais momentos amorzinho, quero apelido que os amigos acham bobo, quero me iludir menos, viver mais. Quero mais atitude, menos promessas. Quero mais beijo na boca, mais abraço apertado de corpo inteiro, mais pézinhos encostados para dormir, quero mais conchinha de manhã e menos despertador estressando. Quero mais sequencias de sinal verde, quero mais cachorros correndo atrás da bolinha, mostrando que o bom da vida não custa nada. Quero trabalhar por amor e não por dinheiro, e mesmo assim ganhar o que for merecido, e poder gastar com coisas que me fazem bem. Quero menos status e mais realidade. Quero estudar, conhecer, aprender. Quero novas experiências, e relembrar as antigas com saudade. Quero menos problemas, mais soluções. Quero mais agradecimentos, menos reclamações. Quero mais tempero no fogão, menos congelado no microondas. Quero ouvir mais vezes a campainha e menos o telefone. Quero pessoas simples, que conseguem enxergar a real beleza da vida. Quero mais pessoas que pensem menos em dinheiro. Quero ser assim, cada vez mais feliz, ao lado de pessoas que valem a pena!
            É isso, bom velhinho, não pedi carro, casa, roupas, eletrônicos nem o príncipe. Nada do que eu pedi você vai precisar carregar no seu saco, porquê é isso que eu quero, carregar menos peso. Mas, caso você não consiga me trazer essas coisinhas, conheço uma pessoa que você pode pedir uma ajudinha, e esse eu sei que não falha nunca, não é preciso escrever cartas, nem esperar o natal chegar. É só fechar os olhos, abrir o coração e receber, isso e todo o resto que Ele tem a oferecer, pode chamá-lo de Deus!



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