segunda-feira, dezembro 12, 2011

Não demora, tem espaço para você!


Por Nathalia Moraes


   
          Acho tão engraçado esse negócio de ter hora pra entrar e não ter hora pra sair. O relógio da igreja ao lado tava quase dando 20 badaladas, quando consegui finalmente sair daquele escritório. Eu até gosto do meu trabalho, mas é que realmente tava bem puxado. Sabe aqueles dias que tudo que pode dar errado se une, e resolvem aparecer de uma vez na sua vida? Pois é, assim foi o meu. 
          Minha cabeça já estava doendo logo quando acordei, aliás acordar era tudo o que eu não queria naquela manhã, tive uma crise de insônia, daquelas de ter de levantar tomar um chá, ver um pouco de tv, pra conseguir retornar, e quando finalmente consegue-se pegar no sono, o despertador te joga para fora da cama, depois de despertar pela quinta vez. "Atrasada de novo?" Já ouvia meu chefe me dizer. Tive que pular dentro de qualquer roupa, escolher entre pentear o cabelo ou escovar o dente, lá fui eu, cabelo com nó bagunçado, olheira alcançando o canto da boca, rezando para o trânsito me ajudar, em vão é claro.
           Ainda tinha gente dormindo no mundo, e eu já estava naquela pilha. Não seria um atraso histórico, mas com certeza eu teria de aguentar os olhares durante o dia todo. É, não deu outra, vinte minutos atrasada, e um dia de mau humor alheio pra cima de mim, como se já não fosse suficiente carregar o meu. É incrível, quando o dia não começa bem, não tem santo que faça ficar bom. Foram horas de estresse, meu ombro já carregava no mínimo umas três toneladas, assim como os olhos. Cada minuto que passava eu só pensava que era um belo dia para pedir as contas e mandar meu chefe para o inferno, junto com as ironias dele, mas  como uma cidadã que paga aluguel e mil carnês, voltava quietinha para a minha mesa. 
            Quando faltava meia hora para sair, e todo mundo estava vibrando, eu ainda desejava cinco minutos para almoçar, e já sabia que teria de ficar bem mais que os vinte minutos de atraso, depois do horário. Graças ao horário de verão, não saí de lá sem a luz do dia, mas o sino da igreja daria suas vinte badaladas logo, e eu não queria ouvir, para não me atirar na frente de um caminhão.
             Pior de tudo, ainda teria de passar no mercado e enfrentar uma fila gigantesca, com problemas técnicos no caixa quando chegasse minha vez. Eu sei que a moça não tinha nada a vê com a  droga do meu dia, mas ela quase desmaiou com o olhar que eu fiz questão de deixar para ela. 
             Finalmente casa, que alegria se não me deparasse com mil contas embaixo da porta. Sinceramente, ficaria bem feliz se o mundo resolvesse acabar de uma vez, mas como nem nessas horas minha vontade é ouvida, só me restava tomar um bom banho de banheira, com sais e muita espuma para relaxar. Acorda mulher! Você briga com a pia para decidir quem fica no banheiro, se você realmente tivesse uma banheira, certamente não estaria irritada assim. Lá fui eu, nua e com meu chinelo, para não dar choque - é que eu fui criada pela minha avó, e mesmo achando besteira, não consigo me desprender desses costumes. 
             A água quentinha caindo pelo meu corpo, e eu caindo pela parede até alcançar o chão. Fiquei ali sentada, pensando em... Bom, era tanta coisa para pensar, que eu não conseguia pensar em nada, longos minutos, até conseguir dar uma relaxada para poder finalmente conseguir colocar alguns pensamentos em ordem. Se alguém visse aquela cena, certamente não acreditaria. Pareço tão forte, com o sorriso sempre pronto para qualquer um que passe na minha frente. Definitivamente, aquele peso não combinava comigo.
             Pela primeira vez, não estava pensando em fórmulas e mil maneiras de conseguir arrumar tudo, por incrível que pareça, mesmo diante de tanto estresse, eu não pensava em arrumar outro emprego, nem em mandar meu chefe, minha insônia e meu despertador para puta que pariu. De olhos fechados eu só conseguia sentir saudade, mas uma saudade tão apertada, saudade dele. Fiquei pensando em como seria minha vida se ele estivesse nela. 
             Tudo seria tão diferente. Desde o meu atraso, eu poderia ter perdido a hora, mas não por uma insônia intrometida, e sim por ter passado a noite toda fazendo amor, e essa noite mal dormida não me traria olheiras e sim uma pele de dar inveja no pêssego da fruteira. E quando eu estivesse pensando em estressar, meu olhar cruzaria com você se espreguiçando na nossa cama. Quem é que fica estressada com um bom dia desses? No trânsito, a nossa música me acompanharia, e eu nem o acharia tão engarrafado assim. E quando meu chefe me enchesse o saco, eu não ia nem ouvir, responderia com sorriso, relembrando as loucuras da noite passada. Ficar sem almoço significaria uma ótima oportunidade para começar aquela dieta que sempre fica na promessa, e quando eu estivesse saindo de lá, não me importaria em parar e ver o pôr-do-sol brindado meu final de dia. As vinte badaladas seria um sinal de que estava na hora de te ver e eu não me importaria em passar no mercado comprar alguma coisinha pra gente, porquê eu já sabia que você iria para cozinha sem reclamar.
              Só não digo que tomaríamos um banho juntos, porquê o fato de tê-lo não muda o tamanho mínimo do meu banheiro, mas seria uma delícia sentir o cheirinho vindo da cozinha ao sair de lá enrolada na toalha, e ficar te olhando cozinhar. Você nem imagina o quanto você fica sexy cozinhando. Então você notaria minha presença, e já viria me beijar quase deixando a toalha cair, mas minha fome falaria mais alto e continuaríamos isso depois. No jantar ficaríamos rindo dos pepinos que tivemos de resolver durante o dia, e da cara dos nossos chefes. Mesmo cansada eu lavaria a louça feliz com você me atormentando e me abraçando por trás, me dizendo a todo minuto: "Se soubesse cozinhar, quem estaria lavando a louça sou eu". Correria atrás de você com a mão de espuma, até cair na cama, e começar nossa noite de amor, que não duraria muito, devido nosso cansaço, mas valeria a pena, por poder dormir ao seu lado. Como você me faz falta.
               Saí do banho, enrolada na toalha, fui até a cozinha e só encontrei uma pilha de louças para lavar. Suspirei encostada na porta, olhando pela casa, e só conseguia sentir a falta que você fazia ali, em cada cantinho. Tava tão cansada que nem jantar eu consegui, me joguei na cama, de toalha e cabelo molhado, e fiquei desejando que você estivesse ali, hoje mais do que nunca, para dividir a minha vida com você, não que alguém tenha a obrigação de me carregar nas costas, mas eu estava realmente precisando de alguém para dividir a minha vida, para formar aquela parceria sincera, que te acalma nas situações mais amedrontadoras. Eu realmente precisava de você ao meu lado, tinha muito espaço sobrando, não só na casa, nem na cama, mas no meu coração, nas horas do meu dia. 
              Peguei no sono esperando o dia que Deus decidirá me ouvir e te colocar na mesma calçada que a minha, para gente se esbarrar e enxergar ali, tudo que eu desejei até pegar no sono. Não sei quem é você, nem como você é, mas já consigo sentir o seu cheiro e sua mão segurando a minha. Dormi esperando o dia que nos encontraremos, o dia que você vai entrar na minha vida e ficar. Só assim, finalmente entender que esse tempo sozinha terá servido para não querer mais desgrudar, e te ouvir me dizer que você estava esperando por mim, como eu te espero. Não demora, tem espaço para você!

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