terça-feira, maio 21, 2013

Amor próprio: até onde o orgulho pode ir?

                                                   
                                                           Por Nathalia Moraes

     Orgulho não tem nada a ver com amor próprio, apesar de muitos confundirem estas duas sensações, amar a si mesmo, é lutar por aquilo que se quer, mesmo que para isso você tenha que passar por cima desse tal orgulho que te implantaram. 
     Não é amor próprio se te priva de fazer aquilo que você quer, se te cala, se te prende, isso é só orgulho, amor próprio é diferente, quando você se ama, você se permite ser egoísta, só um pouquinho, e para de pensar nas consequências, mesmo sabendo que elas existem, e passa a fazer o que quer,  por amor a você, e por você, só quem pode fazer é você mesmo.
     Não é justo consigo mesmo deixar para trás, abrir mão, desistir, só por achar que aquilo te diminui, te faz inferior. O que provoca isso é ficar acorrentado ao que dizem que é certo ou errado. Não diga, não vá, não faça, não pode... Nada disso tem valor. 
     Tentar, tentar e tentar. E se preciso for, tentar de novo, porque a vida é assim mesmo, cheia de acertos e erros, e não ganha mais quem não perde nunca, ganha quem tenta, quem não desiste, quem não permite o fim, até que o mesmo seja irremediável. O jogo só acaba quando termina, quando o juiz apita, o espetáculo só chega ao fim quando as cortinas se fecham, e enquanto isso não acontece, há chances incontáveis de felicidade. Basta acreditar, e eu acredito.
      Amor próprio é isso, é saber do seu valor, do quanto você pode sendo quem você é, independente do que aconteça. É confiar em quem você, e saber acima de tudo que o melhor está aí dentro. Amor próprio é ter certeza daquilo que se quer, e não deixar que se vá, não sem antes ter corrido tudo que pôde para alcançar. Amor próprio é assim, não mede esforços para a felicidade.
      Porque burrice mesmo, errado mesmo, feio mesmo, é desistir do que mais se quer, é não lutar até a morte do último soldado, é entregar os pontos de mão beijada, é concordar com o que te dizem só porque te dizem. Amor próprio é ouvir a voz do próprio coração, e não aquelas que chegam até seus ouvidos. 
      Não dá para acertar sempre, mas sempre dá para tentar mais um pouco... sem desistir por um orgulho barato, e eu prefiro assim "enquanto houver razão eu não vou desistir". Isso sim é amor próprio, e orgulho não tem nada a ver com isso. 
      
       
      

sábado, maio 18, 2013

Ensaios. Sobre as brigas diárias e seus estragos.


Por Nathalia Moraes

     Brigar antes de dormir, naqueles três últimos minutos antes do beijo de boa noite, ou de manhã, saindo para o trabalho, naquela data especial que era para comemorar. Em alguns momentos a gente consegue reverter, tem tempo para isso, chama de lado, pede mais um minuto e consegue resolver. Mas em outros, aquilo fica tormentando a noite, vira para todos os lados e nada de achar uma posição confortável como a conchinha de todas as noites, não consegue focar no trabalho, digerindo tudo o que foi dito, guarda-se mágoas. Pura infelicidade, deve fazer um mal à saúde, se não, para o relacionamento com certeza faz. 
      Nem todo mundo consegue perceber, mas estas briguinhas diárias são como pequenos cacos de vidro, se você pisa um dia sofre um pouquinho, machuca de leve, se no outro você pisa de novo, a dor intensifica, mas ainda aguenta. Porém chega um dia que você não consegue mais suportar. É uma espécie de sentir o gostinho da separação, antes mesmo dela chegar, é uma sensação dolorosa de perda, recoberta por uma camada de fúria e indignação. Mesmo que alguma forma de reconciliação nos resgate, o dano está feito. Foi feito mais um ensaio para a separação.
       Quando essas brigas começam a se tornar frequentes, um belo dia, depois de mais um desentendimento, percebe-se que está pronto para virar a página e seguir sozinho. Mas não é isso que se quer.
        Há quem diga que adorar brigar, que curtem relacionamentos aos berros,  gostam da adrenalina, e de fazer as pazes depois. Particularmente, tenho medo de gente assim, qualquer energia negativa não me traz nenhum sentimento bom. Os que conheci desse tipo, se cansaram e se entregaram a calmaria.
        Claro que ninguém é um monge budista para conseguir viver cem anos sem uma discussão. O convívio, a rotina, as diferenças tudo isso causa alguma forma de energia ruim que precisa ser liberada de alguma forma, em algum momento. É necessário e saudável impor limites, gostos e desgostos, mas sabemos como fazer isso de forma tranquila.
        E sim, algumas brigas fazem-se necessárias, principalmente aquelas por valores pessoais e intangíveis, por desrespeito enfim, entende-se. O que não podemos é fechar a cara e dormir brigado por motivos que poderiam ser acertados com um pouquinho mais de paciência. Isso gera um desgaste irreparável na relação. A nossa natural inclinação à ternura, vai sendo sabotada pela raiva, até que o coração paralise. Até que o tom carinhoso para de acompanhar a voz, e o toque. Até que os olhares não se encontram e não se reconhecem mais. Não há ternura, tampouco admiração e cuidado. Mas não é isso que queremos. Portanto é mais fácil evitar, do que tentar reparar o estrago.
        Muito melhor é tomar as mãos dela nas suas e dizer coisas baixinhas, sem perder a calma e a doçura, sem dar espaço para o desamor e o desafeto. Muito melhor conversar tranquilamente, numa boa, e no final abraçar forte até pegar no sono. 
         Lembre-se: Não fomos feitos para o atrito, na intimidade, somos apaixonados e afáveis. No nosso interior jazem sentimentos de infindável doçura. A raiva existe, mas é apenas parte do que nos reveste, e não do que somos de fato, nem do que queremos receber. Vira e mexe temos de exibi-la, mas lá dentro, nossa real substância é a outra, contrária. Internamente não queremos brigar, muito menos sofrer.
         Portanto, para que possamos evitar que estes ensaios aconteçam, a dica é simples: evitem o máximo que puder estas briguinhas, transformem-na em conversas inteligentes e recompensadoras e jamais, sob hipótese alguma, durmam brigados. Não desperdicem o melhor que a vida a dois proporciona, uma noite bem dormida, agarrada ao seu amor, com a certeza de que amanhã ele continuará.
        

domingo, maio 05, 2013

E depois da paixão?


Por Nathalia Moraes


      Quanto tempo pode durar um amor?
      Porque é tão difícil acreditar que ele pode durar uma vida toda?
      Na verdade, o amor pode durar o tempo que os dois desejarem. Se quiserem ficar o resto da vida juntos, com amor e alguns outros ingredientes tão importantes, isso pode acontecer, desde que seja a vontade de ambos. 
      Mas por que então, há tanta promessa de amor eterno, e este eterno não dura mais do que alguns meses, alguns anos? Por que essa vontade de viver ao lado do outro, acaba? 
      Quando conhecemos alguém, e nos apaixonamos, no ápice da paixão, acreditamos que amaremos um ao outro o resto da vida, e planejamos a casa,  os filhos, os cachorros e o final feliz. Porém, o tempo vai passando, e o que a gente não imagina acontece, vamos conhecendo a outra pessoa, como não seria possível conhecer no começo, e isto envolve também os piores defeitos, aqueles que não imaginamos que pudesse existir em alguém tão linda. Defeitos, manias, gostos, atitudes. Todos estes pontos podem ser negativos, e existir em todos nós. E só aparecem depois que começamos a conhecer verdadeiramente quem estamos, e para isso, leva um tempo. Provavelmente, a paixão, aquela fulminante, arrebatadora, que te fazia enxergar corações em direção ao amado, esta paixão pode estar no fim. 
      E depois da paixão? Depois que o coração volta a bater em ritmo tranquilo, quando vocês já conseguem se olhar sabendo que aquela pessoa não é tão perfeita, quando nem sempre dizem coisas bonitas e apaixonadas, o que acontece? Há dois rumos a tomarmos, conforme a paixão vai passando, seu subconsciente pode ir te afastando, e buscar outra nova paixão, que te proporcione novamente aquele choque, aquela injeção de ânimo, você pode querer buscar em outra pessoa, as mãos trêmulas, a voz engasgada, a gracinha da sedução. Você pode optar por isso, ou pode esperar a poeira baixar e perceber que há uma transformação sublime, onde a paixão dá espaço para algo muito melhor entrar em cena, o amor. E aí meu bem, é outra história.
      É no amor que você vai descobrir o tamanho de vida e a complexidade que existe na relação entre duas pessoas. É neste convívio que você vai ter a certeza de que ninguém fica com outra pessoa se não existir vontade, porque sem ela, nada segura. A vida a dois, exige muito mais de você do que você pode imaginar. Exige um trabalho psicológico constante e intenso, exige que você primeiro se conheça verdadeiramente, e em seguida, permita-se abrir a conhecer verdadeiramente o outro. 
       Vai ser preciso ter muita, muita, repito, muita paciência. Não tem como ser diferente, não há amor se não houver paciência. Vai ser preciso desprender-se de qualquer orgulho barato, deixar para trás pensamentos pequenos e fechados. Para viver o amor será necessário doar-se e nada disso cabe nesse momento. 
        E é vivendo o amor que você vai descobrir que não é fácil, porque não é mesmo, não é fácil manter um relacionamento sério e fazer com que dure, só com muita vontade mesmo. É uma maneira de descobrir que é possível enxergar o outro humanamente, fora da bolha encantada que colocamos quando estamos apaixonados. É enxergar nu, sem roupa bonita ou maquiagem, é enxergar dentro. Exige olhar clínico, audição redobrada e muita conversa, sim, só vivendo foi possível entender o quão importante é conversar. 
        Amar de verdade, te faz entender sobretudo que existe beleza fora da perfeição, é um paradoxo, a vida fora dos contos de fadas pode ser tão e até mais linda que dentro. E ama quem consegue entender isso. Quem consegue superar que uma relação não vai ter apenas dias bons, que nem sempre os sinos vão tocar e que discussões vão existir com mais frequência que já se pode imaginar, infelizmente. 
        Por isso é tão difícil acreditar hoje em dia, que um amor que começa hoje, pode durar o resto da vida. Estamos impacientes e intolerantes, desejamos viver intensamente, não queremos rotinas, nem gente "pegando" no pé, não estamos dispostos a ouvir, nem nos colocar no lugar do outro. Falta tempo, e o mais importante, falta vontade. Fala-se da boca para fora que deseja-se, mas na hora de passar por isso tudo, o laço afrouxa no primeiro desgaste. Mas meus caros, vocês acreditam mesmo que foi fácil para os casais de 50 anos chegarem juntos até hoje? Claro que não, o mundo mudou, mas a dificuldade da convivência continua a mesma, o que mudou foi este desapego que insistem em infiltrar em nossas cabeças.
        Viver a paixão é uma delícia, nos traz vida, pele boa, sorriso constante no rosto e coração sambando, mas só passa para a segunda fase, aquela que vem depois da paixão, aqueles que se esforçam e que desejam de verdade, e apenas estes vão compreender e sentir uma sensação que vai muito além da euforia.
        Um amor só vai durar para sempre se ambos estiverem dispostos a viver assim. E quando entende-se que há dificuldade e diferenças, mas que todas elas podem ser superadas com carinho, dedicação, cuidado, paciência e muito amor, os dias ficam melhores, mais leves e muito mais prazerosos. Consegue-se absorver e aprender muito mais com o outro. E só assim poderemos acreditar que o amor ainda pode durar uma vida inteira, basta querer.
        É depois disso que conseguiremos enxergar a verdadeira beleza, e quanto isso vale a pena, o quanto é bom ter com quem contar em dias difíceis, o quanto é bom ter alguém para rir com você, o quanto é bom dormir agarrado, como se os corpos quisessem descansar juntos, o quanto é bom o sexo com amor, o quanto é bom poder olhar nos olhos da outra pessoa e saber que no futuro, quando toda a agitação passar, quando poucas pessoas ainda estiverem próximas, quando já tiverem vivido muito, existirá alguém que ainda estará ao seu lado, de mãos dadas para você voltar a se apaixonar.