quarta-feira, novembro 30, 2011

Sem essa de "melhor amiga" de novo


Por Nathalia Moraes

   Sabe o que me encomoda? Mulher que tem uma "melhor amiga" por semana. Tudo bem vocês saírem para balada juntas, descobrirem que adoram a mesma música e o mesmo batom, até chorar as mágoas pelas paixões mal resolvidas depois de umas doses de vodka, mas até aí, achar que ela é sua melhor amiga, ah não!
   Na verdade eu acho essa história de BFF (Best Friend Forever) adelescente demais para mim. Amizade, assim como amor anda sendo praticada de uma maneira um tanto quanto estranha aos meus olhos. E sinceramente, tem me irritado bastante.
   Não sei, mas talvez seja porque amizade é sagrada demais pra mim, tá quase na mesma linha da família, sabe? Na verdade algumas estão mais dentro que os próprios parentes de sangue, e é aí que tá.
   Para ser de verdade não é necessário ser amiga de anos, nem ter dividido todos os momentos da sua vida, não é questão de tempo (apesar de valorizar ao extremo amiga de infância, já que é bem mais difícil cultivar uma amizade, do que fazer novas), nem de pequenas afinidades. Vai tão mais além.
   Aí a fulana vem e me diz: "-Eu achando que ela era super minha melhor amiga, e o que ela fez? Nossa tô decepcionada!" Nossa! É mesmo? Ah por favor, né minha querida?! Amizade não é isso aí, não. Faz o seguinte, fecha os olhos e imagina seu casamento. Pronto? Agora me diz, quem era a madrinha sorrindo com lágrima nos olhos? Entendeu agora a diferença? Você não abriria mão jamais da sua melhor amiga no altar do seu casamento para ela entender seu olhar quando você estiver pensando: "Amiga, desencalhei!".
    Eu tô falando de amizade, de parceiria, de sintonia que arrepia, de olhos que se entendem e conversam, de companhia para qualquer situação, de dores abdominais depois de uma tarde juntas. Tô falando de quem abre sua geladeira sem pedir, de quem faz da sua casa a casa dela, de quem ama a sua família, de quem vai ser o primeiro a te dar uma bronca quando você fizer uma burrada, de quem fala a verdade, o que você precisa ouvir de fato, não poupa palavras para abrir seus olhos, te colocar de volta no chão e é a mesma que vai viajar com você em qualquer idéia feliz e maluca. Vocês estão unidas por lágrimas... se não for de emoção, será de tanto rir.
   Agora, sabe o que me encomoda mais? Mulher que abandona amiga porque começou a namorar. Como assim? Sua amiga aguentou seus anos de reclamações de solteirisse, seus choros por amores não correspondidos, foi para as baladas que ela sempre odiou só para te acompanhar, pegou o amigo feio só para você se dar bem, e agora que você se apaixonou e finalmente deu certo, ela simplesmente é deixada de lado. Não pode, não dá, tá proibido!
   Amiga de verdade consegue dividir todos as fases da vida com a outra sem nem se preocupar, é automático, mesmo que não se vejam sempre, ou não consigam se falar o quanto queriam, não têm dúvidas de que serão sempre amigas. Se importam uma com a outra, querem o bem, sempre lembram de alguma história e morrem de rir louca para contar para a outra, e quando estão sofrendo queriam muito que a outra estivesse por perto, e se estiver com certeza vai te dar um puxão de orelha, seguido de um abraço, e um porre ou uma boa panela de brigadeiro.
   Não interessa se é uma, dua, três... não tem limite, sorte dos que têm muitos, mas mais sorte ainda daqueles que conseguem escolher um entre todos. Amigos são especiais e indispensáveis, e eu não abro mão por homem, distância ou crise nenhuma. É essencial que eu tenha dentro de mim essa sensação de não estar sozinha nesse mundo, de ter realmente com quem contar nesse tempo doido cheio de promessas furadas, de amizades de porta de balada, desse troca-troca desenfreado de melhores amigas, de para sempre que acabam amanhã. 
   Ter amigo é conseguir sorrir diante de qualquer problema, é ser você, sem máscaras, sem vergonha, é ter alguém para dividir seus medos, seus dramas, suas loucuras, suas crises de carência, de depressão e as deliciosas crises de riso. Ter amigo é ter sorte. E se você tiver muita sorte, é poder ver fotos de muitos anos atrás e notar que tem alguém ali do seu lado, e que continuam no mesmo lugar nas fotos de hoje. 
    
      
    
  
   


sábado, novembro 26, 2011

Tem algo errado nessa quadrilha amorosa




Por Nathalia Moraes

  As vezes me sinto uma idiota, uma adolescente com aparelho nos dentes, cheia de espinha na bochecha e hormonalmente chata, é quando a imagem de mulher bem resolvida, sucedida, responsável e sábia vai ao chão, escorre pelo ralo, e só sobra a menina.
  Justo eu, que adoro falar sobre relacionamentos, adoro contar para todo mundo sobre minhas aventuras amorosas. Eu, que poderia abrir um consultório sentimental, minhas amigas adoram meus discursos, mas sabe aquele maldito ditado "faça o que eu falo, e não o que eu faço" não me serve como carapuça, não, ele me cobre inteira.
  Sempre falei para todo mundo que a gente tem que se valorizar, tem que gostar de quem gosta da gente. Tá, então por que eu tenho que fazer tudo ao contrário? É incrível, não, na verdade chega a ser deprimente. Eu sei passo a passo todas as receitas e simpatias para se dar bem, e o que eu consigo? Nada. Não consigo me obedecer, sabe como é?
  Eu adoro falar que homem de verdade não liga se a mulher é difícil, mas vê se eu quero quem fica no meu pé?! Me veio a cabeça uma cena típica, de Carlos Drummond de Andrade, vejamos a Quadrilha: "João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili, que não amava ninguém..." Prazer, Teresa! O João é uma graça, um fofo, um doce, aliás acho que colocaram mais açúcar do que a receita mandava, e eu tenho tendência a diabets. Ei, será que o Raimundo também tem? Porque a Maria é tão azeda, e ainda assim ele só tem olhos para ela. Bom, na verdade ele tem olhos para Maria, para Lili e para qualquer outra fulana que entrar nessa história, menos para a Teresa aqui. 
   Ixi que confusão! Eu sou assim mesmo, uma confusão só. O que acontece é que eu tenho doutorado em não querer quem me quer. Pronto, falei! O cara é um lindo, de verdade, ele é bem legal, a gente se diverte, ele é super responsável, bom moço, me respeita, adora me ouvir, fazer minha vontades, temos todos os gostos em comum, ele daria a vida por mim, nascemos um para o outro. E sabe o que me coração acha disso? Nada, ele não acha nada, ele simplesmente ignora todos esse fatores, não acelera nem um batimentozinho quando o fulano aparece, inércia total, se finge de morto. Já fiz respiração boca a boca, fiz de tudo, mas ele não responde, não adianta.
   Coração teimoso. Ok, idiota, assim como eu. Basta o outro, sim, o Joaquim do verso, aparecer, que ele bomba, pareço ter engolido uma escola de samba, meu sorriso abre quase que automaticamente, pareço uma boba.
   Não, coração! Você está errado, não é para acelerar agora. Não por ele, você sabe quem é esse aí? Ele adora me deixar toda apaixonada, adora me beijar com vontade, me abraçar apertado, me faz rir igual criança, o jeitinho que ele me olha, a conchinha dele não dói o braço, ele adora me fazer a mulher mais feliz do mundo e me ignorar no dia seguinte. É isso que ele adora!
   Ele ama rock, e eu sou chicleteira de carteirinha. Ele adora frio, e eu sou a cara do verão. Corinthiano e Tricolor, quando isso vai dar certo? Odeia trabalhar, estudar então? Sério, ele escreve ansiedade com c e eu tenho pavor de erros gramaticais. Fuma, enche a cara, dá em cima até da mãe no café da manhã. É um ogro de cabelo bagunçado e chinelo. Nada a vê comigo, entende? Logo eu... A gente não combina em nada, e você vai logo bombar por ele? Essa história que os opostos se atraem só funciona nas comédias romanticas e olha lá.
    Eu tenho essa mania, deve estar no DNA, porque não é de hoje, desde que me conheço por gente eu sou assim. E sabe o que é pior? Quando ele se der conta que me ama, eu não vou querer mais. Ele vai virar o João, e eu e meu coração já seremos do próximo Joaquim. Parece que perde a graça, deve ser culpa daquela tal tendência sadomasoquista que eu já comentei que tenho.
    Não aguento mais esse tempo que não se encontra. Não adianta colocar ele na minha vida quando eu já mudei de idéia. Essa história de fazer a gente se encontrar na fila do pão, daqui dez anos é linda, mas não para mim.
    O que eu queria é parar com isso, queria que meu cérebro finalmente entrasse em sintonia com o meu coração, que eles parassem de brigar e se entendessem de uma vez. Não quero mais João, nem Joaquim. Quero alguém que também esteja cansado desses desencontros. Alguém que segure minha mão, e nossos dedos se encaixem como lego, e que nessa hora, nossos corações batam na mesma sintonia. Não quero amores perfeitos, porque acho que seria pedir demais, mas pedir para encontrar alguém que esteja disposto a amar da mesma forma que eu me disponho, é pedir muito?
    Já não sei mais nem para quem apelar, é Santo Antônio, é Deus, é Gênio da lâmpada, é Cupido. Não sei, só sei que seja lá quem for, peço que me ouça, e preste bastante atenção no que eu tenho a dizer:
    Saiba que não acho justo fazer alguém me amar, sem fazer com que eu o ame ao mesmo tempo, assim como não acho justo fazer com que eu ame alguém que não vai me amar. O amor é lindo, e não deveria ser assim, cheio de desencontros. E se o amor é um sentimento do lado do bem, porque fazer tanta gente sofrer assim? E não me venha com aquele papo de que tudo acontece na hora certa, a hora certa é agora, felicidade não se adia, não admito esperar para ser feliz amanhã, já esperei tempo demais, cansei de esperar a minha vez, cansei de desperdiçar tantos beijos e sonhos em vão, estou cheia de amores até a página dois. Já aprendi, chega de apanhar. E não me peça para ter calma, meu relógio sentimental grita por amores verdadeiros, por trocas sinceras, implora por vida a dois, por beijos apaixonados. Se eu não vou amar, não faça com que me ame, e se eu não vou ser amada, não faça com que eu ame.
   Drummond que me desculpe, mas de hoje em diante a Quadrilha passará a ser: 
   João amava Teresa, e ela o amava também. Raimundo amava Maria, e ela o amava também. Joaquim amava Lili, e ela o amava também. E todos estavam felizes, e é assim que deve ser. 
   
  
   
  

terça-feira, novembro 22, 2011

Ele não aguenta!



Por Nathalia Moraes

   Homem adora mulher independente.
   Ah é? Então tenho encontrado algumas raras excessões vivas por aí. E por incrível que pareça, atravessando sempre a minha vida. Me desculpem, homens modernos que adoram repetir que mulher tem que ter atitude, que mulher tem que saber o que quer, que mulher tem que ter opinião, ser independente... Oh! Mas que discurso másculo, funcionaria muito bem para o tempo em que vivemos, porém não é o que tem acontecido na prática. O que eu ainda vejo são homens (ou quase isso) com uma cabecinha mais quadrada que a caixa de cerveja em baixo do braço, parados no século XV.
   Vejamos, as mulheres saíram da cozinha, invadiram as empresas, algumas já trocam até pneu e de salto alto, mas tem homem que ainda não acompanha, não aguenta. Parece loucura, eu sei. Mas não é, acreditem. No meio desse discurso exemplar do homem atual, pude encontrar vários exemplares vivos, cheirando a naftalina, e não digo na idade não, porque até os mais novatos entram nesse grupinho patetico.
    O cara tem que ser muito, mas muito homem mesmo para segurar a onda da mulher independente, caso contrário ele não aguenta, diz que adora, e sim, realmente deve adorar, mas não aguenta. Esse tipo de homem vai adorar te encontrar na balada, linda, brilhando... mas na real, vai se casar com uma mulherzinha no estilo da minúscula cabeça hipócrita dele, a mulher bege, sem graça, sem cor. Mulher que não brilha, que aceita tudo que o bobo diz, que fala baixo, decote e mini saia nem pensar, mulher que não bebe, que não fuma, sonsa, frágil, pálida, afônica, tipo que até a rainha delas, Sandy cansou de fazer parte.
    "Amélia é que era mulher de verdade." Pronto, definido. Tem muito homem por aí que ainda não aguenta o contrário disso, não aguenta assumir a mulher que sabe viver, que conhece o mundo fora do roteiro quarto-sala-cozinha. A onda da mulherada moderna, que trabalha porque gosta, que estuda porque engrandece, que vai pra academia para agradar o espelho, mulher que tem voz, sabe falar, colocar sua opinião, e ainda cuida da casa, acompanha na cerveja, gosta de futebol, dança até o chão, mulher de sorriso aberto, gargalhada gostosa, mulher que tem cor, que brilha. Homem acha lindo, mas na hora de manter, é muito difícil, dá muito trabalho, e esses homens são covardes, preguiçosos, machistas e idiotas. Se ganhar mais que ele então, esquece! Finalmente se vêem do tamanho que são, e não pela quantia no bolso, mas pelo conceito machista retrô, acham que ganhando mais, são melhores, e o contrário os amedronta. E pior que mulher que só gosta de homem com dinheiro, é homem que acha que ter dinheiro basta, ô tipinho que me causa alergia.
     Conclusão, homem que não aguenta mulheres incríveis, acabam ficando com as beges, esse tipo é mais fácil. Deve ser esse, um dos motivos que eles traem tanto, não aguentam assumir a mulher que eles queriam de verdade, e acabam ficando com as mais fáceis. Sim, porque mulher fácil não é aquela que se permite fazer o que tem vontade, na hora que quiser, mulher fácil é o tipo que esse homem aguenta, fácil de lidar. E mulher de verdade não quer ser fácil, é complicada mesmo, é intensa, se apaixona por ela mesma todos os dias antes de se apaixonar por ele, ama sem medo, se joga. Amélia é o caramba, essa sim é mulher de verdade. E realmente tem que ser muito homem pra aguentar mulher assim!

  

domingo, novembro 20, 2011

Essa merda de ciúmes. Desabafo.




Por Nathalia Moraes


   Que sentimento é esse que chega sem pedir licença, me invade da cabeça aos pés, me derruba sem dó nem piedade? Quem inventou? Quem permitiu? Como é que eu me livro disso?
    Meu desejo profundo hoje, era que cada pessoa que vive a criticar, sentisse um terço dessa merda de ciúmes que eu sinto. Porque é fácil falar quando se tem o desapego como seu grande aliado, mas não é o meu caso, eu não escolho sentir ciúmes, vocês conseguem entender isso? É difícil para vocês, né? É mais fácil me chamar de louca, descontrolada, insegura e o diabo que te carregue. E se eu for, me deixe ser.
    Você, vocês todos aliás, que não sentem um pinguinho disso, não sabem do que eu estou falando, do que eu sinto, mas saibam: eu não escolhi ser assim. E não me venha dizer que eu tenho que me controlar, porque controle me falta desde que eu vim a esse lindo mundo de hipocrisia.
   Entenda que o pior não é o escândalo, ou a cara fechada, o choro, ou as brigas, se eu quiser, eu evito tudo isso; o pior é esse veneno que circula junto ao meu sangue. Porque eu posso muito bem ficar quieta, parecer controlada, mas ainda não consegui achar um jeito de controlar o que eu sinto.

    Sabe, eu fico aqui me segurando, repetindo mil vezes todos os mantras possíveis, mas o que posso eu fazer se eu não consigo controlar essa merda de ciúmes? Juro que se alguém inventar uma fórmula, eu compro. Pago todo o meu salário nisso, faço uns empréstimos também se for preciso. Quero saber como é que faz para escolher sentir apenas alegria, prazer, segurança e desapego.
    Se vocês, que adoram dizer o quanto são livres, imaginassem o quanto é sofrido... não por vocês que assistem o show, me desculpem, mas quem sofre mais sou eu, que luto para me controlar, para não sentir, assim como eu luto contra os amores-mal-resolvidos que adoram pular de para-quedas na minha vida, dói muito mais em mim. Talvez eu tenha mesmo no sangue tendências sadomasoquistas, porque nem se eu fizer um curso de purificação na Índia, nem assim eu acho que me curo desse mal.
     O ciúmes é uma droga, um vício, uma merda! A diferença é que eu não escolhi experimentar para ver se é legal, ele simplesmente chegou, assim, sem avisar e ficou. E agora reaparece sem o meu concentimento. E minha vontade é acabar com você, com ela, elas, seja ela quem for, mas na real, eu só acabo comigo mesmo.
     Pode me chamar de boba, e dizer que ciúmes não adianta e dar continuidade ao seu dirscurso desumano, vamos lá... sou fraca, sou criança, sou choro, sou alma pedindo sossego, sou coração que não aguenta mais explodir. Ei, e não me venha agora com o seu dó, eu não preciso dele, eu não preciso de nada. Tá, eu preciso apenas que você me respeite e pare de me olhar assim.
     Talvez com o tempo, é... quem sabe o tempo, que me ajuda a resolver tantas questões, não me ajude também a ser mais pacífica, tranquila, afônica. Por enquanto eu vou levando assim, me corroendo por dentro, mesmo me achando a pior das espécies, a cada vez que eu sinto que você pode preferir sair da minha vida para viver em outra, até me destruir por inteira ou até que meu corpo entenda de uma vez por todas que não é me matando de ciúmes que eu vou conseguir que você, ou qualquer outra pessoa fique do meu lado, pelo contrário, que isso só afasta, talvez um dia meu coração entenda que o meu ciúmes não te torna mais meu, e que ninguém é de ninguém, que você pode escolher estar com qualquer outra, mas que escolheu estar comigo agora, e isso basta.
    Talvez um dia eu pare de maltratar meu coração, talvez um dia ele pare de me maltratar...
     

quinta-feira, novembro 17, 2011

Ouça o que eu tenho a dizer...


Por Nathalia Moraes

  Já dizia o provérbio chinês: Você tem uma boca e dois ouvidos. Use-os nesta proporção. Sábios esses olhinhos puxados.
  Aprendemos a falar antes dos três anos, mas a ouvir, até hoje custamos a aprender. O que acontece em geral é que foi criado um medo de ouvir, as pessoas tem medo de ouvir umas as outras.
  Mas antes de começar a praticar o exercício do ouvir, é importante saber que ouvir não consiste apenas em deixar o outro falar, balançando a cabeça positivamente como se estivesse entendendo. É necessário se desprender do que se está acostumado, prestar atenção realmente nas palavras que o outro diz, em como ele diz, e até mesmo em o que ele esconde muitas vezes atrás de todas palavras ditas.
  Ouvir nem sempre é um exercício fácil, e para atingir a excelência faz-se necessário treinar, começar aos poucos, talvez com uma música, quantas dizemos que adoramos sem ao menos ter prestado atenção na letra? E é isso que acontece muitas vezes com as pessoas, ouvem sem ouvir.
   As vezes ouvir o que o outro diz, se torna difícil, principalmente quando ele não diz o que queríamos ouvir. As palavras parecem não querer se encaixar, não tem sonoridade, não soam como música aos nosso ouvidos, e então quase que imperceptivelmente, trocamos algumas palavras de lugar, substituímos outras, acrescentamos um ponto e pronto, ouvimos o que queremos. E não o que de fato foi dito.
   Ou então andamos sempre tão ocupados, distraídos e lustrando o próprio umbigo que deixamos de perceber quantas palavras são ditas sem que possamos nos dar conta, muitas vezes a resposta da questão anterior, está no enunciado da seguinte, quem nunca notou isso? E a gente ali, preocupado com o tempo, com a próxima questão, ou com o carinha da mesa ao lado, apenas batemos o olho e deixamos escapar, por debaixo de nossos olhos a resposta que tanto buscamos. O mesmo acontece na nossa vida, ficamos tão preocupados em achar respostas, que muitas vezes tem alguém ali, ditando pra você e você não percebe. E deixa passar...
   Pode parecer contraditório aprender tanto nos vinte e poucos anos, eu sei, mas acreditem, a vida ensina em todas as fases dela e nesses anos vou aprendendo... e aprendi que o importante é saber ouvir. As vezes o outro nos diz coisas que não percebemos, ou fingimos não entender. E aí nascem as ilusões.
  Olha só onde chegamos, descobrimos então de onde vem nossas ilusões, muitas vezes da boca de pessoas menos evoluídas que um ácaro, que ainda utilizam a mentira para conquistar alguém, para nada. Mas também vem de nós mesmos, de ouvidos destreinados a ouvir a verdade, o que de fato nos é dito, vem da vontade de ouvir outras coisas, da criatividade enrustida usada no momento errado.
   Quem sabe então se conseguíssemos tirar o pé do acelerador, desativar o modo automático, abrir as janelas, os olhos e os ouvidos, e prestar atenção em cada palavra dita por tantas bocas, quem sabe então não seja o primeiro passo do exercício.
   Somos seres pensantes, porém ainda com algumas (ou muitas) deficiências, e uma delas é essa, falar de mais e ouvir de menos. Mas saibam, quando começamos a ouvir, aprendemos a filtrar o que é bom, o que acrescenta de fato, e o que são só mais palavras sem conteúdo, aprendemos a decifrar as pessoas pelo que elas e dizem, e tem a dizer, e aprendemos até a ouvir o que a boca não é capaz de pronunciar, deciframos pausas, suspiros e olhares entre as palavras, quando começamos a ouvir, aprendemos além de ouvir os outros, a nos dar ouvidos, ouvir o que queremos dizer a si, e então descobrimos que existe mundo fora de nós mesmos, e talvez seja o que estava faltando.

sexta-feira, novembro 11, 2011

Dia de Faxina



Por Nathalia Moraes

  Hoje acordei meio Marinete, a diarista, sabe? Querendo limpar, organizar, desinfetar. Confesso que isso não é muito comum, por isso quando acontece, tenho que aproveitar ao máximo, arrastar todos os móveis e tirar todas as minúsculas teias de aranha de cada cantinho. Comecei bagunçando tudo, porque mesmo que soe contraditório, só consigo assim, organizar desorganizando. E no meio daquela bagunça toda, encontrei uma caixa.
     Coloquei uma daquelas máscaras pra conseguir sobreviver as poeiras acumuladas sobre a tampa da tal caixa, aquelas caixas que ficam amontoadas no fundo de nós mesmos, esquecidas e bagunçadas, cheia de papeizinhos, choros, risos e lembranças de anos, boas ou nem tanto, que a gente vive adiando pra limpar.
     Sempre ouvi minha mãe dizer que eu guardo muita tralha, mas não sabia que era tão real assim, e fui descobrir ali que ela estava certa, e o quanto pesa guardar todas essas coisas. Hora de separar o que realmente me é importante, e o que só estava ali pra fazer peso... joguei tudo no chão, limpei a caixa, tirei toda a poeira e fui separando, fica ou lixo. E adivinhem o resultado? Muito mais coisas pra jogar fora, pura tralha mesmo. Eu sei, eu sei, já ouço a voz dos politicamente corretos me dizendo: "não cuspa no prato que comeu, menina!", mas dispenso os bons modos, pelo menos agora, hoje. Tudo que for pra me fazer bem, quero carregar comigo, mas estou dispensando o peso de tudo que um dia já me fez mal.
     Então comecei a separar, e foi mais ou menos assim: sorrisos sinceros, daqueles de senhorinhas de bairro logo pela manhã, banho de mangueira com as primas no quintal da vovó, mente aberta e criativa, música boa no volume máximo: fica. Olhar da vizinha condenando cada passo, ilusão, notícia ruim na tv, desigualdade: lixo. Abraços apertados de saudades, por idas e vindas, apenas abraços apertados: fica. Pessoas reclamando de tudo o tempo todo: lixo. Olho no olho, verdades (até as mais dolorosas), cheirinho do feijão da mamãe feito na hora: fica. Falsas amizades, pessoas interesseiras, vazias e mal-educadas: lixo. Mãos estendidas, olhar de compaixão, compreensão, bom coração: fica. Fofocas, maus-tratos, inveja e o número do celular daquele babaca: lixo. Gargalhadas com as amigas, porre com as amigas, choro com as amigas, ou só as amigas: fica. Falta de opinião, padrões impostos, mensagens sem resposta: lixo. Bilhetes de teatro, cachorrinho abanando o rabo quando chego em casa, beijo no portão: fica. Insegurança, ignorância, intrigas, irritações, inimizade, injustiças e idiotas, lixo. Bom humor, bom senso, bocas macias, borboletas no estômago, bombom de avelã fica. Grito de chefe, despertador sem mais cinco minutinhos, mentes fechadas e pequenas, ódio, rancor e mau humor de manhã, lixo. Sonhos, comprimentar do porteiro ao presidente, suco de laranja bem geladinho no verão: fica. Pé gelado no frio não.
      Até que encontrei uma coisinha, e lá veio a dúvida: fica ou vai lixo? Não quero mágoas, pessoas que enganam, que tem medo, que não se jogam, que não vivem, que não se permitem, que não assumem, que traem, que não beijam de olhos fechados... mas quero caminhar de mãos dadas na beira da praia, apelidinhos que envergonham os amigos, filme abraçado no sofá, ter pra quem ligar quando a saudade apertar, quero beijos com vontade, abraço de corpo inteiro... decidi então que o amor fica.
       E assim eu fui me livrando de tudo que me fazia mal, que pesava nos meus ombros, que me sufocavam, e guardei só o que me interessa de fato. E agora na caixa, tinha um espaço enorme pra eu encher de novo, porque só funciona assim, para que caiba coisa nova, precisamos nos desfazer das antiguidades com cheiro de naftalina, não dá para ir amontoando sem parar. Mas agora eu me obriguei a só guardar o que for bom, leve e tranquilo. Não quero mais ter que carregar o peso das coisas que não me servem mais, que me fazem ficar presa no chão, quero voar, ir além, sair por aí sentindo a brisa no rosto, sem aprisionamentos imbecis. 
       Viver, sonhar, errar, acertar, aprender, cair, levantar... Porque eu sei que não dá pra escolher apenas a cereja do bolo, tem que comer todo o bolo, e nesse bolo tem o que é bom, o não tão bom, o péssimo e até o lixo, tem que comer tudo. Mas vai de você, escolher o que você vai guardar na sua caixa, vai de você ficar pensando em como poderia ter sido feliz, ou ser feliz a partir de hoje. Vai de você guardar coisas, pessoas e sentimentos pesados, o ombro é seu, as costas doloridas no final da noite incomodando pra dormir, a caixa pesada e empoeirada é sua. Vai de você escolher o que fica, e o que vai pro lixo. Portanto viva o que a vida tiver pra você, mas guarde apenas o que te faz bem.
       E foi no meio dessa faxina que eu aprendi: Tudo que não me desperta a vontade de sorrir, é pesado de mais para eu carregar comigo.
    

terça-feira, novembro 08, 2011

Ele não te quer



Por Nathalia Moraes

  Ele não te quer, ele não te quer, ele não te quer, ele não te quer... De agora em diante transformei essas quatro palavras em mantra. De cinco em cinco minutos eu tenho que repetir, pelo menos umas dez vezes, estou a ponto de colar uns lembretes pela casa "Acorda, ele não te quer. Aceite!", quem sabe assim eu consigo parar de pensar nele, e desejar estar com ele, e esperar que ele me ligue, e pare de sonhar com o dia que ele vai acordar apaixonado por mim, e vai mudar de opinião, bater na minha porta arrependido de ter perdido tempo e dizer finalmente que descobriu que me ama. Pronto! Já tá a besta sonhando de novo. Acorda menina, ele não te quer! Simples e doloroso assim, como um filete de madeira que entra em baixo na unha.
      A sua vontade é bater na casa dele, segurar firme naquele rosto lindo, quase que fincando as unhas na bochecha, com aquela barba por fazer que deixa ele ainda mais irresistível, olhar bem lá no fundo dos olhos dele e dizer: "Você não vê o quanto eu tô sofrendo? Pára de perder tempo, chega de bobagem. Vem ser feliz comigo. Me beija, me ama." E sabe o que ia acontecer se sua insanidade permitisse isso? Ele ia te beijar e te amar, até a manhã seguinte. E pronto, porque é isso que você é, uma noite incrível com prazo de validade do nascer do sol. E ele vai tentar de todas as maneiras te fazer pensar o contrário, porque nisso ele tem doutorado, sabe como ninguém usar as palavrinhas mágicas, é tão covarde que nem dizer que não te quer ele é capaz, talvez fosse mais fácil assim, mas não, ele adora a arte do enrolar, e consegue. Mesmo não acreditando em uma vírgula do que ele diz, ainda assim, ele sempre consegue o que quer. Te deixar apaixonada. Fica te mantendo em banho maria, e você se torna uma blusa, que ele não quer se desfazer, mas também não vai usar todos os dias, tem que manter ali, guardada no guarda-roupa pra usar quando bem entender, até cansar de uma vez. E mesmo quando cansar, ele não vai te dar pra outro, vai simplesmente te esquecer ali, no fundo da gaveta junto as traças.
      Mas sabe o que acontece? Você cansa, seu corpo não aguenta mais berrar por sossego, seu coração suplica o fim dessa história, você não quer mais ouvir as músicas que falam de amor e lembrar dele, você quer desativar o botão que aciona seu pensamento cada vez que ouve alguém falando sobre relacionamentos, você não quer mais lembrar do nome dele quando te perguntam se está namorando, aliás, você odeia essa pergunta desde os almoços de domingo em família com primas mais velhas e essa pergunta imbecil. Chega de ver filmes de comédia romântica imaginando vocês dois. Chega de mensagens sem respostas, de chamadas efetuadas e não recebidas, ele não te quer.
      Só falta um outdor em meio a Avenida Paulista: "EU NÃO TE QUERO", com letreiro bem chamativo. Ele já te deu todas as demonstrações possíveis de que não quer nada além, mesmo dizendo o contrário, ele não quer construir uma história com você, nem ser o cara que vai tá te esperando no altar, muito menos o pai dos seus filhos. Você sabe que ele sai com outras, ele é mestre em arrumar desculpas, qualquer compromisso é mais interessante que te ver, tá sempre com agenda lotada, com muito trabalho e alguma peça do carro quebrada, combina com você e imprevistos surgem como siriri no verão, aos montes. Precisa dizer mais alguma coisa?
     Não existe no mundo pessoa tão ocupada que não tenha cinco minutos pra uma ligação rapidinha, até o médico mais disputado da cidade conseguiu te encaixar na agenda lotada dele, não existe bateria de celular que acabe todas as vezes que ele promete te ligar. Quem com tantos problemas pessoais não arranjaria uma horinha pra fugir ou dividí-los? Carro quebrado não é desculpa, quem quer, vai até de bicicleta. Não há trauma, medo ou vontade de ficar solteiro que consiga segurar um homem quando ele quer uma mulher de verdade. Fato comprovado, quem quer dá um jeitinho, você sempre consegue, não é? A verdade é simples, e você já sabe, só precisa aceitar.
      Aceite, ele é um babaca e não te quer, e feliz ou infelizmente, as pessoas tem o direito de não querer umas as outras, mesmo que isso as tornem babacas. Hora de acordar, levantar dessa cama, lavar esse rosto, passar um rímel e aceitar: "Ele não te quer", e quer saber? Graças a Deus! Pode parecer clichê, ou conselho típico de amiga, daqueles que entram por um ouvido e sai pelo outro, mas é real, ele não é pra você, você merece coisa melhor, pare de dar murro em ponta de faca. Pare de querer transformar canalhas em bons moços, no meio das sete bilhões de pessoas que somos, não é possível que você não consiga achar alguém mais interessante. Além do mais, pense em quantos caras você já conseguiu esquecer, parece que você não vai conseguir, mas uma hora você vira a esquina e se depara com o próximo, e ali você percebe como não é impossível esquecer quem não te quer.
      Você já tentou, já insistiu, até se humilhou. Agora chega! Para de sofrer afundada nesse sofá, para de caçar motivos nas redes sociais dele, você já tem o maior motivo do mundo pra não querer mais esse cara: Ele não te quer. E é isso que você vai usar pra seguir em frente. "Ah! Não me quer? Obrigada", é no não querer dele que você vai encontrar alguém que te queira de verdade. Quer outro clichê verdadeiríssimo? Nessa é ele que sai perdendo, é verdade, pode confiar. Perdeu a chance de ser feliz ao lado da mulher mais incrível do mundo, ou ele acha que vai encontrar outra assim por aí? Perdeu a chance de ser amado, cuidado, bem tratado. Se deu mal, muito mal. E você... Ah! Você só tem a ganhar, pare de se importar com quem não se importa com você, pare de se contentar com quem não te quer, e vá viver ao lado de quem faz questão de ter você.
     

domingo, novembro 06, 2011

Era uma vez...


Por Nathalia Moraes

   Era uma vez...
   Sim, era uma vez uma linda princesa e essa é a minha história. Aliás que história maluca é essa que contos de fadas não existem mais? Meu príncipe ainda nem chegou em seu cavalo branco. Tem alguma coisa errada. Calma aí, já entendi onde está o erro, vamos voltar.
   Será uma vez...
   Sim... s-e-r-á, no futuro, porquê ainda não foi, mas há de ser, há de chegar o belo dia, com passarinhos cantando, que ele, o lindo príncipe em seu lindo cavalo branco aparecerá. Na verdade o cavalo foi apressadinho e já chegou, não sei quem adiantou essa parte do conto, mas já me enviaram o cavalo, até achei que pudesse ser o príncipe, mas não, era apenas o cavalo, tentei devolvê-lo mas pelo visto não aceitam devolução e eu obrigada a ficar com ele, batizei-o então de Ex. Deixei-0 amarrado, bem amarradinho com uma corda, e nela fiz um nó, o nó do passado. Mas acreditem se quiser, vira e mexe ele consegue escapar e dar umas voltinhas no meu lindo jardim. Tô tentando aprender um nó mais firme, pra que ele fique preso pra sempre no tal do ''era uma vez'', era... pra não ser mais.
   Além do cavalo, já me enviaram muitos sapos, e eu segui direitinho a magia, beijei, beijei, beijei e nada, nadinha... Continuaram sapos, verdes, com olhos esbugalhados, asquerosos, e preferindo moscas a princesas como eu. Alguns deles vieram, não sei como, até disfarçados de príncipe, e depois do beijo doce, eles voltaram a forma natural de sapos. Nesse meu conto já teve até Fera se transformando em Bela, dá pra acreditar?
   Não sei o que tá acontecendo, as vezes penso até em desistir de ser princesa, tentei me convencer de que essa história de príncipes encantados deixaram de existir, mas não consegui. Não é possível, as histórias só podem chegar ao fim, depois do beijo com sininhos de fundo, depois do "e viveram felizes para sempre''.
   Fico vendo as histórias das outras princesas, a branquela esfomeada, mora com sete homens, come uma maçã envenenada e o príncipe vem, a faxineira linda com irmãs e madrasta feiosas, com ajuda da fada, transforma abóbora em carruagem, bêbada perde o sapato e adivinhem? Príncipe nela. A coitada que anda meio sonolenta, caindo no sono pelos cantos decide se encher de calmante e dormir para sempre, até que o príncipe chega para acordá-la. E todas essas doidas viveram felizes para sempre. E eu?
   Eu recebi uma carta, e vou ler para vocês:
   "Querida princesa,
precisamos acertar alguns pontos, antes de mais nada peço que não desista do seu posto, quem nasce princesa, princesa será para sempre, mesmo que suas saias estejam cada vez mais curtas, e você esteja dançando freneticamente até o chão nos bailes do castelo, mesmo trocando maçãs envenenadas por doses de vodka e beijando os sete anões, mesmo assim, você é uma princesa. E aceite, princesas desejam príncipes. Porém, me sinto na obrigação de abrir seus olhos, as coisas mudaram. Os príncipes estão em falta, e com você me apressando, acabo enviando cavalos e sapos, pra ver se você se ocupa um pouquinho com eles e eu ganho tempo, para procurar seu príncipe. Ah! Outra coisa... esqueça todos os príncipes que você imaginou, nessa loucura toda, o pózinho do encanto ficou muito caro, e por isso já não estão mais tão encantados. Só o que tenho encontrado ultimamente, são homens comuns, cheio de defeitos, mas até interessantes quando paramos para observar. Tem uns que não são tão bonitos, ou tão altos, nem tão fortes, talvez não tenham carros, motos ou bicicletas, muito menos cavalos brancos. Não são tão educados, nem tão gentis, já não abrem a porta do carro, e nem fazem serenatas em baixo da janela da amada. E então? Então que seu príncipe pode ter um sorriso perfeito, uma voz incrível, e um jeitinho de pegar na sua nuca que te tiram a força das pernas. Pode até não se vestir tão engomado, mas não erra quando veste aquela camiseta básica com um pouco de perfume, é isso, o cheiro dele além de ser delicioso, é daquele que vai ficar na sua roupa e te fazer sonhar a noite toda. Ele pode até não te ligar sempre, mas quando se encontram ele se interessa por cada partezinha do seu dia, pode até não ter o mesmo gosto pra música que você, mas faz uma massagem divina nos seus pés quando você exagera na dança. Pode não puxar a cadeira pra você sentar, ou ser tão romântico, mas é engraçado, tem o abraço que você quer no final do dia, e o mais importante, pode te amar. Pronto, agora só te peço para que não desista, observe mais, tente encontrar qualidades importantes que as vezes ficam escondidinhas atrás dos defeitos bobos, não se cobre tanto, não me cobre tanto, não me apresse, mas também não se acomode. Seja você, viva tranquila, não se feche, mas não se iluda, não seja tão exigente, mas também não aceite mais cavalos ou sapos só pra não se sentir sozinha. Não se engane tentando ser o que não é. E uma coisa eu te digo, o príncipe vem, nem tão príncipe, nem tão pra sempre, mas enquanto for, será!
Assinado: Fada madrinha."

sexta-feira, novembro 04, 2011

Quem sabe de mim sou eu


Por Nathalia Moraes

  Poderia tirar umas férias da minha vida, que ainda teria muita gente pra não deixar eu perder nada. Sabe como é? Tem gente mais preocupada comigo, que eu mesma. Qualquer assunto, qualquer mesmo, sempre tem alguém ali, prontinho pra dar uma opinião, mesmo que eu não peça.
     Não entendo como conseguem administrar o tempo pra cuidar de outras vidas, eu vivo reclamando que as vinte e quatro horas são poucas pra mim. É muita coisa pra cuidar, pra fazer, pra viver. Já é difícil com uma só, fico imaginando com várias. Trabalho árduo.
     Esses dias encontrei minha vizinha no elevador, eu com cara de dor de cabeça, e ela com um sorrisinho, quase que não se aguentando, bastou eu sorrir de volta que ela já se sentiu a vontade pra comentar: "-Foi boa a festinha ontem, hein?!" Minha vontade foi responder:
"-Foi sim, seu marido deu um show!" Mas, me contive apenas com um sorrisinho irônico, sem falar nada. Qualquer dia vou me sentir a vontade pra dizer que o filho dela merece umas boas palmadas por fazer tanta birra as 8h da manhã em pleno domingo. E acham que ela parou por aí? Não. Continuou com o discurso:
    -Se você quiser, tenho um remedinho pra ressaca ótimo! Mas você é nova, 21 aninhos, ainda tem muita ressaca pra aguentar. Logo passa. Mas menina, esses dias encontrei a Cláudia do 51, sabe? Tá acabada, coitada. Muitos problemas. Filho jovem dá muita dor de cabeça, e a mãe que sofre, porque o pai não tá nem aí, é sempre assim. Por isso, escolha bem com quem você vai casar, viu? Esses dias encontrei seu namoradinho saindo daí, uma graça ele. Opa! Chegou. Tá linda viu?  Tava muito magrinha antes, assim tá bem melhor mais cheinha. Tchau, querida!
    Preciso dizer como eu estava naquele momento? Quem essa mulher pensa que é? Como ela sabe que eu tenho 21 aninhos? E eu lá vou saber quem é a coitada da Cláudia do 51? Não sei nem o nome dela. E que namoradinho é esse? Eu não namoro. Agora ela tinha que fechar com chave de ouro, né? Cheinha? Eu tô é inchada com essa menstruação que não desce logo. Saí tão irritada do elevador, porquê eu não disse nada? Aquele sorrisinho dela não me desceu o dia inteiro. Que vaca!
    Ela não sabe a noite que eu tive, não sabe a semana de provas filha-da-mãe que eu passei, não sabe os berros que eu tive que ouvir do idiota do meu chefe, da merda das contas que eu tive que sambar pra conseguir pagar, não sabe do infeliz vulcão que nasceu na minha cara em forma de espinha justo no sábado, não sabe do desespero que eu tô com a minha menstruação atrasada, não sabe do sapato apertado na minha unha machuda que eu tive que aguentar a noite toda, não sabe que eu me arrumei toda, fui pra uma balada achando que seria incrível, e tive que me contentar com o meu ex no meu pé. Alguém precisa contar essas coisas pra ela. Ela não pode me encontrar no elevador e se achar no direito de se meter na minha vida assim.
     Queria bater na porta dela, e dizer tudo isso, e começar a falar da vidinha mediocre que ela leva, que com um marido desses ela só podia passar a noite cuidando da vida alheia mesmo. Mas como ela chama? Eu não sei, não sei nem se ela tem marido. E aí eu fui me acalmando, e pensando. Eu não poderia retrucar, responder nada mesmo, porquê não sei nada dela, tô sempre muito ocupada sofrendo minhas ressacas, pra reparar se ela tá mais cheinha.
     E foi aí que eu comecei a reparar, me permiti gastar uns minutinhos da minha vida, pra observar a dela, e então eu percebi, ela era a coitada da Cláudia do 51. A criança que faz birra as 8 da manhã em pleno domingo, é filho da filha dela, que sai todo dia e deve ser por isso que ela tem um remedinho ótimo pra ressaca, e o marido, é aquele cara babaca que fica com gracinha com todas as meninas do prédio. E ela, tava realmente acabada, coitada.
     Pronto, entendi como é fácil cuidar da vida dos outros, é só parar de cuidar da sua. Se você parar pra observar como é a pessoa que adora falar de você, é isso que você vai encontrar, bagunça. Pessoas que acham tempo pra controlar, palpitar a bagunça do vizinho, esquecem de cuidar da própria casa.
     É assim, as pessoas gostam de falar da vida dos outros, pra esquecer da sua. Cada defeito que acham no outro, é algum interno que ela tá tentando encobrir, não se importe com o que você ouve, com o que os outros pensam de você, ninguém sabe de você mais que você mesmo. Elas podem achar que sabem, que te conhecem, podem até se achar no direito de falar de você, da sua vida, mas só você sabe o que você sente, quantas calças rasgadas você tem pelos tombos que já levou, só você sabe o que dói, onde dói, porque dói e qual a intensidade da sua dor. Só você sabe os monstros que você teve que matar no seu jogo, e o quanto sua ressaca embrulha seu estômago. Elas nem imaginam de onde vem seus motivos pra chorar, sorrir, beber, cair, viver. Só você sabe o quanto é bom ser você, mesmo com todos os seus defeitos, e quanto você é ocupada vivendo sua vida, sem ter tempo pra viver a dos outros. Afinal, quem sabe de você, é você mesma.

quinta-feira, novembro 03, 2011

Me desculpem, eu me traio.




Por Nathalia Moraes
  
   Eu me traio.    
   Me desculpem amigas, família, e todos que já me ouviram dizer que seria a última vez, mas preciso alertá-los: Eu me traio. Já jurei não sei quantas vezes nunca mais olhar na cara daquele filho da mãe, mas quem disse que eu consigo? Já não sei mais o que fazer. Imagino o quanto vocês devam estar cansados de me ouvir dizer sempre a mesma coisa, e fazer sempre o contrário, mas eu não resisto. Me desculpem por não resistir.
    E antes de mais nada, já vou logo dizendo, me traí de novo, pela milésima vez. Eu sei que dessa vez eu disse que era pra sempre mesmo, que tinha acabado, desculpa por ter ocupado o tempo de vocês e molhado os ombros de cada um, desculpa por fazê-los passar raiva comigo e até mais do que eu. Me desculpem, mas eu me traí de novo.
    Não sei o que acontece, a gente briga, ele me diz coisas horríveis, eu respondo outras piores ainda, vai cada um pro seu lado e ali eu vejo o fim. Ele não presta, eu sei, sei também que ele não é pra mim, e que não vai mudar, e que eu vou sofrer, que preciso ser forte, que existe um mundo de gente interessante pra eu me apaixonar, mas tudo isso, nada disso...
    Eu prometo pra mim mesma que "agora acabou", apago os números da agenda, bloqueio no msn, excluo do facebook, choro, quase morro desidratada de tanto chorar, relembrando o último erro dele, e esse... Ah! Esse é imperdoável, jamais perdoaria isso, isso não. Aguento uma, duas semanas, minha mão coça, meus dedos criam vida, até a propaganda do desodorante me faz lembrar daquele cachorro, e então eu não resisto e dou uma passadinha na página dele, releio a mensagem que eu não consegui apagar, vejo nossa foto que eu rasguei e colei com durex, e ao mesmo tempo que eu sinto raiva dele, sinto de mim.  
    Parece feitiço, mas a minha vontade de ligar parece quase que incontrolável, e eu tento me enganar de novo dizendo que vai ser só pra dizer o que eu não disse na última briga, que ele vai se arrepender, ou talvez se eu ligasse só pra um oi, como amiga, assim como quem não quer nada, e ele vai ver como eu sou superior e não, no fundo eu sei que o que eu quero mesmo é ouvir a voz dele. Me desculpem por sentir saudade de alguém que beija outra na minha frente.
   Já sei, sou sou burra, não deveria, vou me arrepender, mas e se ele mudou? Não sei, ele anda me mandando umas mensagens mais carinhosas ultimamente, e nem tem mais tanta mensagem de menina pra ele. E o mais importante, ele reconheceu o erro, pediu desculpas, quem sabe se eu tentasse mais uma vez e... Tá, eu tô tentando achar motivos pra amenizar a culpa que eu sinto toda vez que ele me sorri e eu não consigo não sorrir de volta, ele não mudou e nem vai mudar, já tô calejada de tanto saber. Me desculpem se meu coração acelera cada vez que eu o vejo passar.
    Mas o que eu posso fazer? Tirem meu celular de mim, quebrem meu computador, me amarrem ao pé da mesa, me batam, me deem um banho gelado, ou só me desculpem. Vocês não sabem como eu gostaria de ser mais racional, de ser forte, de conseguir resistir, vocês não imaginam como dói em mim cair em tentação. Eu tento, tento e tento... e mesmo tentando, já estou me traindo.   
   Me desculpem por não ser tão forte quanto eu digo pra que vocês sejam, me desculpem por ser fraca, por não resistir, ligar, atender, chamar, querer, desejar, ser burra e tão burra. Me desculpem se não sou exemplo, se não faço o que eu falo. Me desculpem por não seguir cada conselho que vocês me dão. Me desculpem se meu coração, meu desejo não seguem a razão. Se eu não consigo dizer não ao toque dele. Me desculpem por ter medo de ficar sozinha, e só querer ele ao meu lado, me desculpem por nao conseguir me apaixonar pelos tantos caras que vocês me apresentam. Me desculpem.
   Talvez essas desculpas sejam mais pra mim do que pra vocês, porque eu sei que vocês ficam bravos, com vontade de confiscar meu celular, quebrar meu computador, me amarrar ao pé da mesa, me dar um banho gelado, mas que no fundo vocês me desculpam. Já eu, vou convivendo com essa culpa, e não sei quando e nem se um dia vou conseguir olhar no espelho e me desculpar.
   Me desculpe, eu mesma.