terça-feira, janeiro 31, 2012

Uma caixinha de surpresas chamada Vida


Por Nathalia Moraes
    
    "Pagar com a língua", quem nunca ouviu/viveu essa expressão? É assim mesmo, você passa sua vida achando que entende alguma coisa de você mesma, e das razões que o coração não tem. Cria fórmulas, escreve receitas e acredita se conhecer como ninguém. Mas aí, vem a vida e faz questão de bagunçar todos essas linhas retas que você desenhou (em vão).
        Depois de alguns anos nessa de vida amorosa, achei (boba) que já podia desenhar com todos os traços o meu "tipo" certo de homem. Dizia com todas as letras que o diferente disso jamais me atrairia. Primeiro e mais importante de tudo, deveria obrigatoriamente ser no mínimo uns cinco anos mais velho que eu. Nunca entendi como minhas amigas conseguiam ficar com esses meninos mais novinhos. "Eu não tenho paciência", repetia com firmeza.
        O que eu não sabia, ou teimava em não acreditar, é que quanto mais você usa a palavra nunca, mais o universo conspira para que você pague com a língua. Não adianta achar que consegue evitar, é assim mesmo. Eu, depois de alguns (poucos, vai) anos nessa vida, cheia de encontros e desencontros, amores e desamores, expectativas e ilusões, acreditei mesmo que o tipo de cara que eu queria para mim, seria aquele homem de verdade, que eu jamais encontraria numa balada. Por isso, a cada noitada que eu me deixava cair, eu já sabia que não adiantaria olhar para os lados, que "ele" não estaria ali. 
         Estava tão convicta, que o universo tratou logo de mover seus pauzinhos para me mandar um recado, a vida é um caixinha de surpresas, e quanto mais você acha que sabe alguma coisa dela, mais ela te mostra o quanto você ainda tem a aprender. E foi numa dessas baladas, lotadas de gente do "tipo que não me interessa", que eu fui aprender mais uma lição. 
         A música estava boa, mas a situação estava me irritando, já entrei na balada com cara de poucos amigos, e o primeiro esbarro bastou para que eu fechasse a cara para a vida. Não sei porquê, mas eu tava mais irritada que o normal. Para ter uma ideia da minha expressão, eu fiquei sozinha num canto do bar, que um moço chegou em mim perguntando: "você não gosta muito desse tipo de música, né?" Pois é, a carinha não estava das melhores. Mas como eu já disse, a música eu curtia, mas a muvuca nem um pouco. É, eu também não sei porquê não fiquei com a minha chatice em casa. 
         Não sei se vocês conseguiram formar o tipo de homem que eu disse que gosto, mas acho que deu para ter pelo menos, uma ideia, né? Pois bem, eis que cai na minha frente, sem saber de onde surgiu, o oposto, o contrário absoluto, com todas as características que eu jamais me interessaria se me dissessem, com a maior barreira que eu podia imaginar entre nós, mais novo que eu. GENTE! Quem me conhece sabe o quanto eu torço o nariz para menininhos, e ele era assim, um menino. 
          Nos cinco primeiros minutos de conversa eu já tinha dado tanta risada, parecia que gente se conhecia há anos, mas quando ele disse a idade... assustei, e continuei na ideia de ficar sem nada. Mas foi impossível continuar no zero a zero, porquê apesar de (achar) curtir um cara mais sério, ser engraçado sempre foi a característica mestre para conseguir alguma coisa comigo, e ele tinha, mesmo com todas as outras contra, essa era a dominante, e era isso que me importava naquela noite, alguém que conseguiu mudar meu humor totalmente.
           Eu só conseguia pensar em "como eu tô aguentando esse menino?" e ele me mostrava a cada minuto que eu aguentaria bem mais. Talvez porquê na verdade, não interessa o tipo que você cria na sua cabeça, a vida não está nem aí para o que você cria ou deixa de criar. Não interessa a roupa, o estilo, o carro, a profissão, a postura ou a idade. Ali, o que realmente importa, é o quão bom é estar com o outro, o quanto ele te faz rir, com as piadinhas mais idiotas, com o jeito mais sem noção, e o quanto aquilo tudo o torna, para a sua surpresa, muito interessante e aí então não interessa mais nada, só aproveitar o tempo que vocês têm para ficar juntos, sem se preocupar com os esteriótipos pré-moldados. 
            Não é do meu interesse também, saber se isso se transformará em algo além de uma noite inesperadamente gostosa em uma balada, nem se fora dali eu realmente o aguentaria ao meu lado. O que eu guardo comigo, é a ideia de que a gente não se conhece tão bem quanto acredita, que fórmulas, receitas e (pré) conceitos não combinam em nada com a realidade, e que o grande prazer está nessa caixinha de surpresas, chamada vida. 
           

        

    

quarta-feira, janeiro 25, 2012

O caminho mais fácil




Por Nathalia Moraes


    "É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe", concordo. E quem sou eu pra discordar do meu rei, Vinicius de Moraes, né? Ser alegre é sem dúvidas, mil vezes melhor que ser triste, porém dá mais trabalho. É, ser feliz dá trabalho. E nós por medo, preguiça ou qualquer outra desculpa, deixamos passar muitas vezes, chances de felicidade que surgem em nossas vidas, por estarmos ocupados com coisas que acreditamos ser importantes. 
        Tenho comigo que, a cada dia que passa, o caminho mais fácil tem sido o mais escolhido por nós. Porquê é mais fácil ficar em casa reclamando da vida, jogado na cama com a cabeça enfiada no travesseiro. Erguer a cabeça, lutar por aquilo que se deseja, seguir em frente é difícil. É mais fácil ficar apontando defeitos e criticando atitudes alheias, do que olhar pra si mesmo, e perceber que nem sempre fazemos tudo certo. É mais fácil culpar os outros pelas coisas que não dão certo na nossa vida, do que perceber onde estamos errando e tentar consertar. 
        Até ser amigo fica mais simples quando escolhemos o caminho mais fácil, é muito mais cômodo abrir uma janelinha no seu computador, trocar meia dúzia de palavras finalizando com um "saudade, vamos marcar alguma coisa" sabendo que mais uma vez não vai dar em nada. Marcar um encontro de verdade, sair de casa, abrir mão de algumas horinhas da rotina, dá muito trabalho. Por isso encontramos mais e mais amizades descartáveis, de porta de balada, em redes sociais cheias de "amigos" desconhecidos, porquê é mais fácil ser amigo de quem só te chama para parte boa da vida, que divide as festas, e as caixas de cerveja. Agora, passar a noite dando colo para aquele que dividiu a vida com você, e que está precisando, ou enfrentar uma conversa desgastante com algum que está indo para o lado errado, é difícil, é chato, cansa. É, ser amigo de verdade, dá trabalho mesmo.
         E quando se fala de amor, esse bichinho ainda existe? Só consigo encontrar seres humanos, de seus diversos estilos, costumes, idades e crenças sofrendo do mesmo mal, a tal falta de amor, todo mundo desapegado, despreocupado, achando que vivem "bem" sozinhos. Claro, é muito mais fácil pegar duas, três, sete, doze numa balada, passar nome e telefone errado para evitar futuras dores de cabeça. Relacionamentos são muito complicados, e nós queremos fugir de tudo que complica. Envolvimento dá medo, conhecer alguém de verdade, além da formalidade dos encontros aleatórios, requer atenção redobrada nas conversas e gestos, depositar confiança é exercício diário, dedicar lealdade é tarefa árdua, aturar as chatices do dia a dia, reconquistar todos os dias a mesma pessoa que já conhece seus piores defeitos, discutir a relação, ser companheiro, manter compromissos, criar laços... É, amar e ser amado dá um baita de um trabalho, não é fácil mesmo. Assusta, amedronta, invade, corre-se o risco de se machucar, e ninguém quer sentir dor. Portanto fica mais fácil fugir, dizer que não quer, que está bem assim, que vive melhor sem esse tal de amor.
         Criar um mundinho particular para viver, deixar-se cair em ilusões, mentir é fácil. Encarar a realidade, ser verdadeiro, falar a verdade por mais ruim que ela seja é difícil, principalmente quando a vida não é tão cor de rosa quanto gostaríamos. Até ser solidário tá fácil, nessa era do compartilhar, é só apertar um botãozinho com imagens e frases impactantes e pronto, fiz minha parte. Mas, sinto informar-lhes, as crianças continuarão passando fome, os cachorros continuarão abandonados nas ruas, os velhinhos continuarão carentes em abrigos, as pessoas continuarão sofrendo em filas de hospitais, enquanto os políticos continuarão roubando milhões por dia. É, fazer a diferença está longe de ser negócio simples, dá um trabalhão. 
          Longe de mim querer dizer o que é certo ou errado, discursar o politicamente correto, pregar o falso moralismo, acho completamente compreensível queremos facilitar cada vez mais as coisas, já que a vida por si só já é tão complicada. Não imagino qual seja o caminho que devemos seguir, não sei qual é o certo, vou e volto o quanto for preciso, confusa em minhas decisões, sou passível de erros, não tenho medo de errar, tenho medo de repeti-los. Porém o que meus olhos conseguem enxergar é essa falsa felicidade, são sorrisos forçados escondendo noites mal dormidas, falta de carinho, dores crônicas e psicológicas. Não sei até onde conseguiremos chegar, continuando assim. Fingindo viver em um castelo encantado, quando o que mais queremos é gritar para o mundo, e para nós mesmos que precisamos sim um dos outros, que somos seres dependentes de amor. E como eu quero ter filhos, muito me preocupa o mundo que eles conhecerão.              




          Permito-me apenas acreditar que nem sempre o caminho que encontramos primeiro, e mais facilmente será o caminho a ser escolhido, que esse nem sempre será o mais feliz. Até porquê a vida não é feita apenas de doce, encontramos fases amargas, azedas e salgadas também, e é nessa mistura de sabores e sentimentos que alcançamos nosso crescimento pessoal, são justamente, essas experiências que tornam a vida mais gostosa. Porquê o caminho aparentemente, mais difícil, não necessariamente, será ruim, e pode até ser mais interessante. É preciso passar pelos obstáculos, tropeçar nas pedras, cair nos buracos, reerguer-se, olhar para frente e continuar. Na vida não temos apenas flores coloridas e passarinhos cantando, e esse é o grande prazer em se viver cada dia, enfrentando o que vier, e vencendo a cada dificuldade. Descobri que o medo, a preguiça, a insegurança, a imaturidade te prendem, te tapam os olhos, e te fazem escolher o mais fácil.Porém, ainda não descobri a fórmula da felicidade, quem me dera distribuir conselhos sábios e certeiros, podendo tornar esses sorrisos amarelos em pessoas felizes de verdade. Quem sabe um dia, depois de longos anos bem vividos...
        Está aí uma meta a ser alcançada, olhar no fundo dos olhos de todos que trocarem mesmo que poucas palavras comigo, viver de verdade, ser verdadeira, arriscar, me jogar, encarar os medos de olhos abertos, ser amiga de verdade, não me tornar um robô com tanta tecnologia, amar quantas vezes for necessário, acreditar no amor, nas pessoas, nos laços afetivos. Me dedicar, ser do bem, fazer o bem. Confiar, ser confiável. Me envolver, conhecer histórias, servir a quem precisar, distribuir carinho e palavras bonitas. Chegar ao final de cada dia, com a consciência de ter vivido, e não apenas existido. E assim, quando eu ficar bem velhinha, poder olhar para trás e permitir-me distribuir conselhos de sabedoria para a nova geração, e perceber que o caminho que eu escolhi não foi o mais fácil, mas sim o mais feliz, porquê a real felicidade está no caminho em que seguimos, e não onde pretendemos chegar, que ser feliz dá trabalho, mas que a recompensa vale a pena. 
        
        
        
       












terça-feira, janeiro 17, 2012

Um apelo às operadoras de celular


Por Nathalia Moraes

       Oi, moça! Tenho uma reclamação pra fazer. Eu não sei se é com você mesmo que eu falo, mas vou te contar meu problema, pra ver se você consegue me ajudar. 
       Eu quero fazer um apelo, é bem sério, eu gostaria que a minha operadora, essa que você trabalha, parasse de mandar sms. É, essas que vocês adoram mandar no meio do dia, no meio da noite, no meio de uma reunião, da minha prova de matemática, e principalmente quando eu tô longe do celular. 
       Não sei se você também recebe, então vou te contar como funciona mais ou menos quando o meu celular apita. É assim, presta bem atenção, para você poder passar o recado direitinho para o seu chefe, olha... eu conheci um carinha, a gente começou a se envolver, trocar sms, telefonemas, encontros, beijos e até alguns amassos, mas de um tempo pra cá, ele tem se comportado de maneira estranha, tá eu sei que você deve tá pensando que se a gente não namora, eu não deveria me preocupar, mas mulher é assim, você deveria saber disso. O que importa é que ele parou com as mensagens, com os telefonemas, e só tem aumentado as promessas de me procurar.
       Bom, você já pode imaginar a cena, né? Eu fico esperando ele dar um sinal de vida, mandar um bom dia, um boa noite, um se cuida, um quero você, qualquer coisa. Eu até tento me convencer de que não, não estou esperando mais nada, mas no fundo, ah... você sabe.
       É aí que você entra, tô aqui, quietinha no meu canto, trabalhando, estudando, tomando banho, fazendo a unha, e o celular apita. SMS! Pronto, é o que basta pra me tirar do sério... eu sei que parece loucura, mas não posso negar, é assim que funciona mesmo. Mesmo não querendo, no fundinho eu fico com a esperança de ser ele, pego o celular toda esperançosa, e quando vejo: SMS da operadora. Conhece aquela carinha de quando uma criança abre o presente esperando ser o brinquedo que ela pediu, e quando vê é um par de meias? É exatamente essa a minha expressão nesse momento. 
       Olha, eu não sei se você tá achando exagero, talvez até seja, mas decidi reclamar formalmente, depois do último episódio. Veja bem, falei com ele na noite anterior, antes de dormir, e ele disse que me mandaria mensagem no dia seguinte, ou seja... óbvio que eu ficaria esperando, mas não é ficar colada no celular, eu fui fazer minhas coisas, esperando ele apitar, tava tomando banho, quando ouço de longe o aviso. Você não imagina a pressa pra terminar aquele banho, sem contar a imaginação no meio da ansiedade de tirar logo aquele condicionador do cabelo. Era ele!
       Quase escorreguei no meio do corredor, e quando alcancei o celular: SMS da operadora. Poxa! Vocês, que trabalham aí, têm noção do quanto um sms das promoções do dia, podem ser destruidores? Não é possível... quem inventou isso deve ser homem, só pode ser. Ele tá aí? Eu quero falar com ele. Ah, não será possível, senhora? Ok! Então, passe esse recado para ele, por favor. 
       Se eu desejo mais alguma coisa? Desejo, desejo sim. PAREM JÁ com essas mensagens. Obrigada, e boa tarde pra você também!
       

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Quando foi que virou amor?



Por Nathalia Moraes

    Engraçado como as coisas simplesmente acontecem. Não interessa se você quer ou não, quando ele decide chegar, não há nada que o impeça, o amor é assim. 
       Na fila do banco, naquela segunda dia 10, calor, você de cabelo preso, nada a favor de um início de romance, até que o novo caixa tem um sorriso perfeito. Na sala de espera do médico, você morrendo de medo e preocupação, até que você vê alguém do seu lado te olhando como quem diz: "-Fica calma". Aquele bar, que você foi só para acompanhar sua amiga, e passa a ir todo fim de semana, quando descobre o quanto o dono é lindo. 
       O amor não escolhe data, nem hora, não espera você passar um batom, ou fazer uma escova, não quer saber se você já curou aquela feridinha que insiste em arder, muito menos se você ainda quer se divertir em uns cinco carnavais. Ele simplesmente chega, sem bater na porta, invade, algumas vezes aos pouquinhos, na ponta dos pés, outras fulminantes e arrebatadoras que te tiram o ar. 
       Mas quando é que ele chega? Será naquele encontro desapercebido das mãos para um carinho no meio da conversa? Será na pressa de ir embora, substituída por um pedido de "fica mais um pouco", ou será naquela música que você canta de olhos fechados e lembra dele? Talvez seja na passadinha para um beijo de boa noite, na quarta depois do futebol. Ou será naquela balada que ninguém mais é interessante o bastante para um beijo descompromissado, ou quando a gente não consegue explicar o que sente, e só quer sentir? Talvez seja naquele friozinho na barriga que nunca passa quando marcamos um encontro, mesmo depois de vários, ou naquela noite que a gente dorme com a blusa que ele emprestou só para ficar sentindo o cheirinho até pegar no sono. Será?
       Quando é que o encanto, a paixão, o desejo, se transformam em amor? Será quando velar o sono do outro se torna melhor que somente dormir? Será naquela foto de rostinho colado ainda envergonhados, que a gente vê de cinco em cinco minutos? Talvez seja nos pés enroscados para dormir, ou naquele macarrão com molho vermelho que a gente faz só para impressionar. Virou amor quando a gente dispensou a festa mais aguardada do ano para ficar em casa fazendo nada juntinhos? Ou será que virou amor no meio daquele filme que a gente não conseguiu ver o final porquê caímos no sono, apertados no sofá? 
       Fico aqui pensando, quando é que vira amor? Vamos dormir conscientes, e acordamos desenhando corações em cada pedacinho de papel? Quando deixa de ser apenas euforia e passa ser a paz que você tanto desejou para seu coração? Em que momento o eu e ele, passou a ser nós? 
       Talvez o amor esteja no piscar dos olhos rapidinho para não perder nenhum sorriso do outro, ou no calor de cada abraço, no chão que a gente encontra quando estamos sem um, talvez esteja no beijo sem pressa, na briguinha boba por causa daquela oferecida da foto no facebook, no aperto que dá no coração no domingo a noite, na hora de se despedir, ou na segurança do bom dia na segundona brava. 
       O amor pode ser a companhia para tarefas chatas, como compras no supermercado lotado, pode ser um recadinho na porta da geladeira, ou uma música mal tocada no violão. Pode ser um dengo naquele sábado de chuva, ou uma cara fechada pelo tamanho da sua saia. Talvez seja aquele sonho de padaria que ele traz quando vem me visitar, ou a risada gostosa que a gente não cansa de ouvir. 
       Ah, o amor... Quem é que sabe do amor, se não quem o sente?
       
       

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Os opostos se atraem, mas não se bicam



Por Nathalia Moraes


        Comecei a fazer terapia. Ai, espero que isso seja um tabu superado, já né, gente? Não dá mais pra achar que psicólogo é coisa de gente louca. Sou do tipo que acha que todo mundo deveria marcar umas sessões, no mínimo, mensais. E não precisa de grandes traumas na infância, não. Eu acho que é bacana pra se conhecer, se entender melhor, buscar evoluir e crescer sempre. Mal não faz, né? Fazia um tempo já que eu tava pra começar, mas nunca sobrava uma vaga. Sabe como é, né? A gente faz uma lista no começo do ano de tudo que quer fazer, e ao longo dele, vai arrumando desculpas pra conseguir adiar. Mas dessa vez sobrou um espacinho na agenda corrida da menina aqui e consegui marcar uma visitinha pra conhecer como funciona. 
        Sem referências marquei com o doutor Bento, que foi logo me avisando que ele não é doutor coisa nenhuma, mas mania é mania, e eu achava engraçadinho chamá-lo assim. Ele me explicou como funcionariam minhas visitas, e eu contei um pouquinho da minha vida, pra gente se conhecer melhor. Claro que eu tava um pouco ansiosa no início, mas foi tão tranquilo, nada de divã e sala escura. Estávamos ali, sentados numa mesa, um de frente para o outro conversando. Praticamente um encontro a dois, só faltava um drink e um cantor de barzinho tocando Lulu Santos ao vivo. 
        "Doutor Bento, Doutor Bento! Quem diria, hein? Você e eu, juntos fora daquele consultório."
        É, como podem ver, aquelas visitinhas me renderam mais do que apenas conhecimento intra-pessoal, aliás tive de tratar de arrumar outro psicólogo rapidinho, já que esse eu decidi trazer pra minha vida além de Freud. No começo foi meio confuso, mais pra ele, por se envolver com uma 'paciente', ainda mais ele, que é tão sério, tão profissional, tão equilibrado. Era tudo que eu precisava, e claro que eu não deixaria escapar. 
        "Vem cá, doutor, vem!"
        Conhecem aquela velha história de que os opostos de atraem, né? Sem contar que minha mãe já tava fazendo promessa para o Santo Antonio arrumar um par de calça para mim, e só pedia que fosse alguém para me amarrar no pé da mesa. E não é que o Santo atendeu. Promessa de mãe deve ter mais valor. 
         O que acontece é que Bento e eu somos completamente o oposto um do outro. Como eu já contei, ele é todo tranquilo, sério, equilibrado... não vê a hora de um feriado pra se jogar pra um sítio, cheio de bicho para ficar deitado na rede depois do almoço curtindo um "modão caipira" na vitrola. Já do outro lado da ponte, encontramos a mocinha aqui, rebelde-sem-causa, ligada no 220, grilo falante, metropolitana até dizer chega, frequentadora assídua de shopping, conectada e fã número 1 da Rita Lee e Guns. 
         Mas sei lá, eu via nele alguém que ia finalmente conseguir me acalmar, dar uma desacelerada, meu pontinho de equilíbrio e ele adorava minha alegria, meu jeito espalhafatoso de falar com o corpo todo se jogando de um lado para o outro. Era como se a gente buscasse no outro, tudo aquilo que não nos pertencia. 
         Vai entender, né? É tipo Eduardo e Mônica mesmo, mas no nosso caso, a história não durou por muito tempo. O começo foi lindo, um descobrindo o mundo do outro, vidas completamente diferentes, a gente tinha muito o que aprender mesmo, e era gostosa essa troca. Acontece que os dias vão passando, e os pontinhos opostos, que no início não passava de "é o jeitinho dele", começou a me irritar (Imagino que meu jeito também foi incomodando). 
         Claro que em qualquer relacionamento, os dois lados precisam ceder, e que dificilmente vamos encontrar pessoas totalmente iguais a nós, mas tantas diferenças começaram a estressar e tornar a convivência uma coisa chata, e são nas pequenas coisas que isso acontecem. É um almoço, escolher o restaurante, por exemplo, eu não como carne e ele é fissurado em churrascaria, uma vez ou outra, a gente abre mão, acompanha, escolhe uma terceira opção, mas chega uma hora que cansa e cada um acaba indo para um lado. Todo feriado era uma briga, ele querendo ir pela milésima vez para aquele fim de mundo sem 3G, amei o lugar, mas uma, duas vezes já foi o suficiente pra mim, nos outros eu queria outras opções, poxa. A gente saía para dançar, o que eu queria? Dançar, e ele? Ele ia para ficar parado me olhando com cara de "Menos, né?". 
          Sem contar coisinhas menores ainda, do dia-a-dia mesmo, ele é todo organizadinho, e só falta eu me perder no meio das minhas roupas jogadas em cima da cama. Rolou um probleminha eu quero que resolva na hora, e ele é a cara daquele ditado "a pressa é inimiga da perfeição". Até hoje não consigo esquecer da noite que teve especial Led Zeppelin num bar rock'n roll que eu adoro, e a gente acabou não indo porquê ele odeia dormir tarde e acordar cedo. Sabe, pode parecer pouco para quem vê de fora, mas a situação vai se tornando insustentável para quem tá vivendo. Até um dia que não dá mais para suportar alguém tão diferente do seu lado, e isso aconteceu quando a gente tava conversando sobre viagem pro exterior, eu sugeri Londres, Holanda ou Austrália, ele veio com um papinho: "-Putz, viajar é um saco. Longe assim? Só se for a trabalho mesmo."
          Terminamos. Claro que terminamos, foi a gota d'agua. Definitivamente não era mais humano administrar essa relação, era como se a gente tivesse insistindo em alguma coisa sem fundamento, seria nadar e morrer na praia. A gente não combinava em nada, depois que passou eu fiquei me perguntando uns três dias, como foi que a gente se encantou um pelo outro, como a gente se apaixonou? É aquilo, os opostos se atraem, vêm a chance de mudar, concertar uns defeitinhos com a ajuda de alguém diferente, mas depois não aguentam, se estressam. Claro que isso não é regra, Eduardo e Mônica era nossa música desenhada, era nossa inspiração para tentar mais uma vez, com eles deu certo, porque que com a gente não daria, né? Também não sei, não deu porquê não tinha que dar mesmo, a vida tem dessas, não existe razão para as coisas feitas pelo coração. 
          Quando acabou, eu cheguei a fazer uma lista de coisas que eu gosto e detesto, pra quando eu conhecesse um cara, ele ter de bater 100% com o meu jeito. Mas passada a ressaca-pós-separação eu fui ficando mais maleável de novo, porquê eu sei que não adiantaria de nada, a gente não escolhe por que se apaixona mesmo, mas confesso que na primeira conversa eu já pergunto para onde o cara tem vontade de viajar. 
         

"Deixa eu contar..."

"Deixa eu contar..." é o novo projeto aqui do blog!
É uma nova maneira de contar histórias, funciona como quando aquela sua amiga cheia de novidades tem alguma nova para te contar e te diz: -Ai, deixa eu contar! 
Sou eu, fazendo uma leitura interpretativa, simples e gostosa de alguns dos textos publicados aqui no Nathaliando. 


Espero que gostem!
Mas, como tudo por aqui ainda é novo, peço que continuem me ajudando com suas opiniões. Ok? 


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=CPMQW3qM9NA

Esse é o primeiro! :)
Foi o segundo texto publicado aqui no blog, o "Desisto".


Obrigada e beijos!

terça-feira, janeiro 10, 2012

Paixão ou carência?



Por Nathalia Moraes

        "Amiga, tô apaixonada!"
        Dias lindos, quando até as segundas nubladas se tornam encantadoras, noites recheadas de puro amorzinho, celular na mão o dia inteiro, pele boa, no rádio só toca "a nossa música". Love's in the air! Quem não quer? Mas, será paixão mesmo? Claro que sim. Ou não?
        Nossos sentimentos caminham lado a lado com a nossa imaginação, e quando juntos, conseguem dar nós tão embaraçosos em nossas mentes, que nem Freud consegue explicar. Mas, dia desses, numa dessas puxadinhas de tapete que a vida costuma dar, me recuperando da ressaca moral que os desamores provocam, me veio a dúvida, será paixão mesmo, ou apenas carência?
        É difícil assumir, eu sei, mulher nenhuma quer dizer que é ou está carente, que precisa sim de um homem ao seu lado, que quer alguém para chamar de "meu amor", que quase sem querer, se pega numa conversinha particular com Santo Antonio, que não entra na fila do buquê, mas fica do ladinho desejando que ele caia sem querer no colo. A mulher que assume isso fica fadada a adjetivos como desesperada, e ninguém quer parecer desesperada, até porquê de fato não estamos. Somos mulheres querendo amar, ser amadas e ponto final. Mas com toda essa revolução, desde quando lá atrás, a primeira queimou o sutiã em busca de direitos iguais aos do homem, estamos cada vez mais parecidas com eles, o que é um erro, pelo menos nesse caso, onde o padrão mulher-moderna consiste em ser independente de homem, e querer um amor, tornou-se coisa de mulherzinha boba.
        Mas a verdade é que nós mulheres, mesmo as mais duronas, queremos um colo masculino para apoiar as pernas no final do dia, queremos um cheirinho de homem na nossa blusa, queremos um sobrenome a mais no final do nosso, e essa vontade acaba nos cegando, por diversas vezes, é quando criamos as confusões sentimentais, ao encontrar um cara legal (ou nem isso) e provavelmente nos decepcionando no final. 
        Umas por estarem muito tempo sozinhas, outras por acharem que já passou da hora de juntar as escovas de dente, outras ainda porquê vivem em constante busca pelo príncipe, as que desistiram da armadura de ferro e deram lugar a menina doce, e até as carentes de nascença, enfim, independente da situação que nos levou a esse pontinho, estamos carentes e encontramos alguém, na balada, na fila do pão, no ponto de ônibus, na academia ou no almoço no shopping... 
         Mesmo sabendo que nem de longe ele é o cara certo, mesmo que ele avise que não quer nada com nada, mesmo conhecendo os antecedentes, nós queremos brincar com fogo, a gente quer é se queimar. E ao invés de recuar, avançamos, achando que temos o controle da situação, e que podemos parar quando quisermos, mesmo sabendo que isso é papinho de viciado... A partir daí vem aquela história que todas nós conhecemos de-cor-e-salteado, começam as trocas de telefone, beijos na despedida, começamos a nos envolver fingindo não entender o que está acontecendo, e pronto, estamos entregues, mergulhamos de cabeça mais uma vez.
        Sim, um carinho é bom, eu sei. Um filminho no domingo sem nada para fazer, é ótimo. Ligação de boa noite quando chega do futebol das quartas, sensacional. Foto de rostinho colado, coisa mais linda de ser ver. Dormir de conchinha então, dispensa qualquer comentário. Tudo isso é uma delícia, e é pra isso que nos dedicamos, é pensando nisso que nos deixamos envolver. Mas, sabe-se lá Deus (e no fundo você também) porquê, o romance não desenvolve, estaciona, empaca, não evolui mais, e vocês passam a se ver menos, só se falam quando você procura, até você cansar de procurar. Pronto, acabou!
         Você sofre, chora, encarna Tati Bernardi, joga um monte de indireta no facebook, chora de novo, bota o salto quinze, vai pra balada com as amigas, toma um porre, chora na primeira música que fale a palavra amor, pede mais uma dose, chora com o rímel no meio do rosto, na manhã seguinte decide que acabou, apaga os contatos, as mensagens, chora mais um pouco, vai trabalhar, estuda a madrugada inteira para aquela prova de matemática financeira, daquela professora vaca que não vai com a sua cara, morre de rir numa tarde no shopping com a amiga, paga umas contas, conhece uns amigos novos, corta o cabelo, muda a cama de lugar, almoça com a família, vive... e passou, porquê o que tem de passar, passa. 
          Numa fuçadinha no facebook, entre um trabalho e outro, naquela sexta-feira as 17h30, você se depara com o perfil dele, e finalmente se dá conta que não morreu afogada em lágrimas, que ficou tudo bem, e fecha aliviada, porquê dane-se o que ele e as amiguinhas andam fazendo, você quer mais é viver a sua vida.
          Tudo isso em menos de três meses. Aí eu te pergunto: era paixão mesmo, ou era apenas carência?          
        
         

quinta-feira, janeiro 05, 2012

E lá se foi mais um...


Por Nathalia Moraes


       Olha só, mais um que se vai, e sem me levar. 
       -Não chore menina, ele não merece. Não sofra, ele não merece.
       Eu sei, eu sei! Escuto isso desde minha primeira decepção amorosa, e olha que depois dela, ainda vieram muitas. 


       O que acontece é que exatamente por saber disso, na altura da vida em que eu me encontro, depois de cada noite mal dormida chorando pelos cantos, hoje eu já não sofro mais por ele, por esse, nem por nenhum dos outros tantos que ainda me decepcionarão. 
       
       É exatamente essa a hora que eu me permito ser egoísta, sabe? As lágrimas derramadas são por mim, poxa. O coração apertado é por mim, todo sofrimento é meu, somente meu e de mais ninguém. Não é por José, João, André, Pedro... é apenas por mim. Sentimento particular, que não divido mais. 


       Hoje as lágrimas caem sem nome, sem rosto, caem porque têm de cair, caem pelo tempo dedicado, pela esperança em vão, por achar que dessa vez eu seria feliz, por acreditar que seria possível, caem pelas mensagens trocadas, pelo apelidinho bobo, pela conta de telefone, pelas horas tentando convencer as amigas de como ele é lindo, pelos quilômetros rodados, pelas lembranças antes de dormir e ao acordar, por ter sido fraca ao se envolver, por ter sido boba mesmo com tantas evidências, por se permitir, se entregar, pela fantasia infantil de desenhar corações em cada pedacinho de papel, por viver - de novo - uma história assim. Entendeu agora?
      
       Ele foi mais um, mais um que repetiu o mesmo enredo, mais um que não fez questão de surpreender, de inovar, de mudar a cena. Mais um que está passando, que se despede dos meus sonhos... assim como o que eu sinto passará. 


       Mas é exatamente isso que me sufoca, que me deprime. É daí que vem essa dorzinha. Tudo passa, as coisas passam, as pessoas passam, os sentimentos passam, mas eu quero mesmo é saber do que fica. Cansei de coisas, pessoas, situações, histórias e sentimentos que simplesmente passam. Quero algo que finalmente fique, que quebre essa tradição, que vire o disco. Dessa vez não quero que passe, quero que fique. É tão dificil assim? Quero que abra a porta, entre e feche-a, sem mais abrir, sem querer escapar pela janela. Quero que fique, apenas fique.
       
       Antes de partir ele te presenteia com a famosa declaração: "O problema não é você, sou eu". Não meu caro, apesar dessa desculpinha preguiçosa, o problema é sim todo meu e te explico... Você está aí virando a página, e eu ainda aqui, tentando digerir tudo o que aconteceu, como aconteceu, em que momento eu perdi. Sim, eu vou me perguntar onde foi que eu errei, e ficar me culpando por estar procurando nos lugares errados e me envolvendo infinitas vezes com caras errados. Implorando para que a medicina evolua de uma vez e encontre a cura para dedo podre. Tentando encontrar respostas para essas e outras perguntinhas que insistem e surgir nessas horas. Percebeu como o problema ficará todo na minha mão? 


       Mas, por incrível que pareça, hoje eu já consigo resolver melhor essas situações dentro de mim, e passar por cada uma sem me desmontar em milhões de pedacinhos jogados no chão, porquê eu sei o quanto dá trabalho se remontar, sem contar que a vida não espera, ou seja, a única opção é aguentar, rir e mais uma vez, aceitar. 
        
        E então chega a hora de parar de choramingar e enfrentar mais uma vez essa vida desnaturada, hora de apagar uns telefones e uns amores, sair desse sofá, vestir seu melhor sorriso e viver,  porquê nada melhor para curar qualquer dor, do que simplesmente viver. Viver tranquila, sem rancores, sem culpas e sem profundas mágoas. É apenas viver! E mesmo cansada, deixar que passe quem tiver de passar, até alguém te surpreender, parar e ficar de uma vez por todas.