terça-feira, janeiro 10, 2012

Paixão ou carência?



Por Nathalia Moraes

        "Amiga, tô apaixonada!"
        Dias lindos, quando até as segundas nubladas se tornam encantadoras, noites recheadas de puro amorzinho, celular na mão o dia inteiro, pele boa, no rádio só toca "a nossa música". Love's in the air! Quem não quer? Mas, será paixão mesmo? Claro que sim. Ou não?
        Nossos sentimentos caminham lado a lado com a nossa imaginação, e quando juntos, conseguem dar nós tão embaraçosos em nossas mentes, que nem Freud consegue explicar. Mas, dia desses, numa dessas puxadinhas de tapete que a vida costuma dar, me recuperando da ressaca moral que os desamores provocam, me veio a dúvida, será paixão mesmo, ou apenas carência?
        É difícil assumir, eu sei, mulher nenhuma quer dizer que é ou está carente, que precisa sim de um homem ao seu lado, que quer alguém para chamar de "meu amor", que quase sem querer, se pega numa conversinha particular com Santo Antonio, que não entra na fila do buquê, mas fica do ladinho desejando que ele caia sem querer no colo. A mulher que assume isso fica fadada a adjetivos como desesperada, e ninguém quer parecer desesperada, até porquê de fato não estamos. Somos mulheres querendo amar, ser amadas e ponto final. Mas com toda essa revolução, desde quando lá atrás, a primeira queimou o sutiã em busca de direitos iguais aos do homem, estamos cada vez mais parecidas com eles, o que é um erro, pelo menos nesse caso, onde o padrão mulher-moderna consiste em ser independente de homem, e querer um amor, tornou-se coisa de mulherzinha boba.
        Mas a verdade é que nós mulheres, mesmo as mais duronas, queremos um colo masculino para apoiar as pernas no final do dia, queremos um cheirinho de homem na nossa blusa, queremos um sobrenome a mais no final do nosso, e essa vontade acaba nos cegando, por diversas vezes, é quando criamos as confusões sentimentais, ao encontrar um cara legal (ou nem isso) e provavelmente nos decepcionando no final. 
        Umas por estarem muito tempo sozinhas, outras por acharem que já passou da hora de juntar as escovas de dente, outras ainda porquê vivem em constante busca pelo príncipe, as que desistiram da armadura de ferro e deram lugar a menina doce, e até as carentes de nascença, enfim, independente da situação que nos levou a esse pontinho, estamos carentes e encontramos alguém, na balada, na fila do pão, no ponto de ônibus, na academia ou no almoço no shopping... 
         Mesmo sabendo que nem de longe ele é o cara certo, mesmo que ele avise que não quer nada com nada, mesmo conhecendo os antecedentes, nós queremos brincar com fogo, a gente quer é se queimar. E ao invés de recuar, avançamos, achando que temos o controle da situação, e que podemos parar quando quisermos, mesmo sabendo que isso é papinho de viciado... A partir daí vem aquela história que todas nós conhecemos de-cor-e-salteado, começam as trocas de telefone, beijos na despedida, começamos a nos envolver fingindo não entender o que está acontecendo, e pronto, estamos entregues, mergulhamos de cabeça mais uma vez.
        Sim, um carinho é bom, eu sei. Um filminho no domingo sem nada para fazer, é ótimo. Ligação de boa noite quando chega do futebol das quartas, sensacional. Foto de rostinho colado, coisa mais linda de ser ver. Dormir de conchinha então, dispensa qualquer comentário. Tudo isso é uma delícia, e é pra isso que nos dedicamos, é pensando nisso que nos deixamos envolver. Mas, sabe-se lá Deus (e no fundo você também) porquê, o romance não desenvolve, estaciona, empaca, não evolui mais, e vocês passam a se ver menos, só se falam quando você procura, até você cansar de procurar. Pronto, acabou!
         Você sofre, chora, encarna Tati Bernardi, joga um monte de indireta no facebook, chora de novo, bota o salto quinze, vai pra balada com as amigas, toma um porre, chora na primeira música que fale a palavra amor, pede mais uma dose, chora com o rímel no meio do rosto, na manhã seguinte decide que acabou, apaga os contatos, as mensagens, chora mais um pouco, vai trabalhar, estuda a madrugada inteira para aquela prova de matemática financeira, daquela professora vaca que não vai com a sua cara, morre de rir numa tarde no shopping com a amiga, paga umas contas, conhece uns amigos novos, corta o cabelo, muda a cama de lugar, almoça com a família, vive... e passou, porquê o que tem de passar, passa. 
          Numa fuçadinha no facebook, entre um trabalho e outro, naquela sexta-feira as 17h30, você se depara com o perfil dele, e finalmente se dá conta que não morreu afogada em lágrimas, que ficou tudo bem, e fecha aliviada, porquê dane-se o que ele e as amiguinhas andam fazendo, você quer mais é viver a sua vida.
          Tudo isso em menos de três meses. Aí eu te pergunto: era paixão mesmo, ou era apenas carência?          
        
         

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