terça-feira, janeiro 31, 2012

Uma caixinha de surpresas chamada Vida


Por Nathalia Moraes
    
    "Pagar com a língua", quem nunca ouviu/viveu essa expressão? É assim mesmo, você passa sua vida achando que entende alguma coisa de você mesma, e das razões que o coração não tem. Cria fórmulas, escreve receitas e acredita se conhecer como ninguém. Mas aí, vem a vida e faz questão de bagunçar todos essas linhas retas que você desenhou (em vão).
        Depois de alguns anos nessa de vida amorosa, achei (boba) que já podia desenhar com todos os traços o meu "tipo" certo de homem. Dizia com todas as letras que o diferente disso jamais me atrairia. Primeiro e mais importante de tudo, deveria obrigatoriamente ser no mínimo uns cinco anos mais velho que eu. Nunca entendi como minhas amigas conseguiam ficar com esses meninos mais novinhos. "Eu não tenho paciência", repetia com firmeza.
        O que eu não sabia, ou teimava em não acreditar, é que quanto mais você usa a palavra nunca, mais o universo conspira para que você pague com a língua. Não adianta achar que consegue evitar, é assim mesmo. Eu, depois de alguns (poucos, vai) anos nessa vida, cheia de encontros e desencontros, amores e desamores, expectativas e ilusões, acreditei mesmo que o tipo de cara que eu queria para mim, seria aquele homem de verdade, que eu jamais encontraria numa balada. Por isso, a cada noitada que eu me deixava cair, eu já sabia que não adiantaria olhar para os lados, que "ele" não estaria ali. 
         Estava tão convicta, que o universo tratou logo de mover seus pauzinhos para me mandar um recado, a vida é um caixinha de surpresas, e quanto mais você acha que sabe alguma coisa dela, mais ela te mostra o quanto você ainda tem a aprender. E foi numa dessas baladas, lotadas de gente do "tipo que não me interessa", que eu fui aprender mais uma lição. 
         A música estava boa, mas a situação estava me irritando, já entrei na balada com cara de poucos amigos, e o primeiro esbarro bastou para que eu fechasse a cara para a vida. Não sei porquê, mas eu tava mais irritada que o normal. Para ter uma ideia da minha expressão, eu fiquei sozinha num canto do bar, que um moço chegou em mim perguntando: "você não gosta muito desse tipo de música, né?" Pois é, a carinha não estava das melhores. Mas como eu já disse, a música eu curtia, mas a muvuca nem um pouco. É, eu também não sei porquê não fiquei com a minha chatice em casa. 
         Não sei se vocês conseguiram formar o tipo de homem que eu disse que gosto, mas acho que deu para ter pelo menos, uma ideia, né? Pois bem, eis que cai na minha frente, sem saber de onde surgiu, o oposto, o contrário absoluto, com todas as características que eu jamais me interessaria se me dissessem, com a maior barreira que eu podia imaginar entre nós, mais novo que eu. GENTE! Quem me conhece sabe o quanto eu torço o nariz para menininhos, e ele era assim, um menino. 
          Nos cinco primeiros minutos de conversa eu já tinha dado tanta risada, parecia que gente se conhecia há anos, mas quando ele disse a idade... assustei, e continuei na ideia de ficar sem nada. Mas foi impossível continuar no zero a zero, porquê apesar de (achar) curtir um cara mais sério, ser engraçado sempre foi a característica mestre para conseguir alguma coisa comigo, e ele tinha, mesmo com todas as outras contra, essa era a dominante, e era isso que me importava naquela noite, alguém que conseguiu mudar meu humor totalmente.
           Eu só conseguia pensar em "como eu tô aguentando esse menino?" e ele me mostrava a cada minuto que eu aguentaria bem mais. Talvez porquê na verdade, não interessa o tipo que você cria na sua cabeça, a vida não está nem aí para o que você cria ou deixa de criar. Não interessa a roupa, o estilo, o carro, a profissão, a postura ou a idade. Ali, o que realmente importa, é o quão bom é estar com o outro, o quanto ele te faz rir, com as piadinhas mais idiotas, com o jeito mais sem noção, e o quanto aquilo tudo o torna, para a sua surpresa, muito interessante e aí então não interessa mais nada, só aproveitar o tempo que vocês têm para ficar juntos, sem se preocupar com os esteriótipos pré-moldados. 
            Não é do meu interesse também, saber se isso se transformará em algo além de uma noite inesperadamente gostosa em uma balada, nem se fora dali eu realmente o aguentaria ao meu lado. O que eu guardo comigo, é a ideia de que a gente não se conhece tão bem quanto acredita, que fórmulas, receitas e (pré) conceitos não combinam em nada com a realidade, e que o grande prazer está nessa caixinha de surpresas, chamada vida. 
           

        

    

Nenhum comentário:

Postar um comentário