quinta-feira, janeiro 12, 2012

Os opostos se atraem, mas não se bicam



Por Nathalia Moraes


        Comecei a fazer terapia. Ai, espero que isso seja um tabu superado, já né, gente? Não dá mais pra achar que psicólogo é coisa de gente louca. Sou do tipo que acha que todo mundo deveria marcar umas sessões, no mínimo, mensais. E não precisa de grandes traumas na infância, não. Eu acho que é bacana pra se conhecer, se entender melhor, buscar evoluir e crescer sempre. Mal não faz, né? Fazia um tempo já que eu tava pra começar, mas nunca sobrava uma vaga. Sabe como é, né? A gente faz uma lista no começo do ano de tudo que quer fazer, e ao longo dele, vai arrumando desculpas pra conseguir adiar. Mas dessa vez sobrou um espacinho na agenda corrida da menina aqui e consegui marcar uma visitinha pra conhecer como funciona. 
        Sem referências marquei com o doutor Bento, que foi logo me avisando que ele não é doutor coisa nenhuma, mas mania é mania, e eu achava engraçadinho chamá-lo assim. Ele me explicou como funcionariam minhas visitas, e eu contei um pouquinho da minha vida, pra gente se conhecer melhor. Claro que eu tava um pouco ansiosa no início, mas foi tão tranquilo, nada de divã e sala escura. Estávamos ali, sentados numa mesa, um de frente para o outro conversando. Praticamente um encontro a dois, só faltava um drink e um cantor de barzinho tocando Lulu Santos ao vivo. 
        "Doutor Bento, Doutor Bento! Quem diria, hein? Você e eu, juntos fora daquele consultório."
        É, como podem ver, aquelas visitinhas me renderam mais do que apenas conhecimento intra-pessoal, aliás tive de tratar de arrumar outro psicólogo rapidinho, já que esse eu decidi trazer pra minha vida além de Freud. No começo foi meio confuso, mais pra ele, por se envolver com uma 'paciente', ainda mais ele, que é tão sério, tão profissional, tão equilibrado. Era tudo que eu precisava, e claro que eu não deixaria escapar. 
        "Vem cá, doutor, vem!"
        Conhecem aquela velha história de que os opostos de atraem, né? Sem contar que minha mãe já tava fazendo promessa para o Santo Antonio arrumar um par de calça para mim, e só pedia que fosse alguém para me amarrar no pé da mesa. E não é que o Santo atendeu. Promessa de mãe deve ter mais valor. 
         O que acontece é que Bento e eu somos completamente o oposto um do outro. Como eu já contei, ele é todo tranquilo, sério, equilibrado... não vê a hora de um feriado pra se jogar pra um sítio, cheio de bicho para ficar deitado na rede depois do almoço curtindo um "modão caipira" na vitrola. Já do outro lado da ponte, encontramos a mocinha aqui, rebelde-sem-causa, ligada no 220, grilo falante, metropolitana até dizer chega, frequentadora assídua de shopping, conectada e fã número 1 da Rita Lee e Guns. 
         Mas sei lá, eu via nele alguém que ia finalmente conseguir me acalmar, dar uma desacelerada, meu pontinho de equilíbrio e ele adorava minha alegria, meu jeito espalhafatoso de falar com o corpo todo se jogando de um lado para o outro. Era como se a gente buscasse no outro, tudo aquilo que não nos pertencia. 
         Vai entender, né? É tipo Eduardo e Mônica mesmo, mas no nosso caso, a história não durou por muito tempo. O começo foi lindo, um descobrindo o mundo do outro, vidas completamente diferentes, a gente tinha muito o que aprender mesmo, e era gostosa essa troca. Acontece que os dias vão passando, e os pontinhos opostos, que no início não passava de "é o jeitinho dele", começou a me irritar (Imagino que meu jeito também foi incomodando). 
         Claro que em qualquer relacionamento, os dois lados precisam ceder, e que dificilmente vamos encontrar pessoas totalmente iguais a nós, mas tantas diferenças começaram a estressar e tornar a convivência uma coisa chata, e são nas pequenas coisas que isso acontecem. É um almoço, escolher o restaurante, por exemplo, eu não como carne e ele é fissurado em churrascaria, uma vez ou outra, a gente abre mão, acompanha, escolhe uma terceira opção, mas chega uma hora que cansa e cada um acaba indo para um lado. Todo feriado era uma briga, ele querendo ir pela milésima vez para aquele fim de mundo sem 3G, amei o lugar, mas uma, duas vezes já foi o suficiente pra mim, nos outros eu queria outras opções, poxa. A gente saía para dançar, o que eu queria? Dançar, e ele? Ele ia para ficar parado me olhando com cara de "Menos, né?". 
          Sem contar coisinhas menores ainda, do dia-a-dia mesmo, ele é todo organizadinho, e só falta eu me perder no meio das minhas roupas jogadas em cima da cama. Rolou um probleminha eu quero que resolva na hora, e ele é a cara daquele ditado "a pressa é inimiga da perfeição". Até hoje não consigo esquecer da noite que teve especial Led Zeppelin num bar rock'n roll que eu adoro, e a gente acabou não indo porquê ele odeia dormir tarde e acordar cedo. Sabe, pode parecer pouco para quem vê de fora, mas a situação vai se tornando insustentável para quem tá vivendo. Até um dia que não dá mais para suportar alguém tão diferente do seu lado, e isso aconteceu quando a gente tava conversando sobre viagem pro exterior, eu sugeri Londres, Holanda ou Austrália, ele veio com um papinho: "-Putz, viajar é um saco. Longe assim? Só se for a trabalho mesmo."
          Terminamos. Claro que terminamos, foi a gota d'agua. Definitivamente não era mais humano administrar essa relação, era como se a gente tivesse insistindo em alguma coisa sem fundamento, seria nadar e morrer na praia. A gente não combinava em nada, depois que passou eu fiquei me perguntando uns três dias, como foi que a gente se encantou um pelo outro, como a gente se apaixonou? É aquilo, os opostos se atraem, vêm a chance de mudar, concertar uns defeitinhos com a ajuda de alguém diferente, mas depois não aguentam, se estressam. Claro que isso não é regra, Eduardo e Mônica era nossa música desenhada, era nossa inspiração para tentar mais uma vez, com eles deu certo, porque que com a gente não daria, né? Também não sei, não deu porquê não tinha que dar mesmo, a vida tem dessas, não existe razão para as coisas feitas pelo coração. 
          Quando acabou, eu cheguei a fazer uma lista de coisas que eu gosto e detesto, pra quando eu conhecesse um cara, ele ter de bater 100% com o meu jeito. Mas passada a ressaca-pós-separação eu fui ficando mais maleável de novo, porquê eu sei que não adiantaria de nada, a gente não escolhe por que se apaixona mesmo, mas confesso que na primeira conversa eu já pergunto para onde o cara tem vontade de viajar. 
         

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