quarta-feira, janeiro 25, 2012

O caminho mais fácil




Por Nathalia Moraes


    "É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe", concordo. E quem sou eu pra discordar do meu rei, Vinicius de Moraes, né? Ser alegre é sem dúvidas, mil vezes melhor que ser triste, porém dá mais trabalho. É, ser feliz dá trabalho. E nós por medo, preguiça ou qualquer outra desculpa, deixamos passar muitas vezes, chances de felicidade que surgem em nossas vidas, por estarmos ocupados com coisas que acreditamos ser importantes. 
        Tenho comigo que, a cada dia que passa, o caminho mais fácil tem sido o mais escolhido por nós. Porquê é mais fácil ficar em casa reclamando da vida, jogado na cama com a cabeça enfiada no travesseiro. Erguer a cabeça, lutar por aquilo que se deseja, seguir em frente é difícil. É mais fácil ficar apontando defeitos e criticando atitudes alheias, do que olhar pra si mesmo, e perceber que nem sempre fazemos tudo certo. É mais fácil culpar os outros pelas coisas que não dão certo na nossa vida, do que perceber onde estamos errando e tentar consertar. 
        Até ser amigo fica mais simples quando escolhemos o caminho mais fácil, é muito mais cômodo abrir uma janelinha no seu computador, trocar meia dúzia de palavras finalizando com um "saudade, vamos marcar alguma coisa" sabendo que mais uma vez não vai dar em nada. Marcar um encontro de verdade, sair de casa, abrir mão de algumas horinhas da rotina, dá muito trabalho. Por isso encontramos mais e mais amizades descartáveis, de porta de balada, em redes sociais cheias de "amigos" desconhecidos, porquê é mais fácil ser amigo de quem só te chama para parte boa da vida, que divide as festas, e as caixas de cerveja. Agora, passar a noite dando colo para aquele que dividiu a vida com você, e que está precisando, ou enfrentar uma conversa desgastante com algum que está indo para o lado errado, é difícil, é chato, cansa. É, ser amigo de verdade, dá trabalho mesmo.
         E quando se fala de amor, esse bichinho ainda existe? Só consigo encontrar seres humanos, de seus diversos estilos, costumes, idades e crenças sofrendo do mesmo mal, a tal falta de amor, todo mundo desapegado, despreocupado, achando que vivem "bem" sozinhos. Claro, é muito mais fácil pegar duas, três, sete, doze numa balada, passar nome e telefone errado para evitar futuras dores de cabeça. Relacionamentos são muito complicados, e nós queremos fugir de tudo que complica. Envolvimento dá medo, conhecer alguém de verdade, além da formalidade dos encontros aleatórios, requer atenção redobrada nas conversas e gestos, depositar confiança é exercício diário, dedicar lealdade é tarefa árdua, aturar as chatices do dia a dia, reconquistar todos os dias a mesma pessoa que já conhece seus piores defeitos, discutir a relação, ser companheiro, manter compromissos, criar laços... É, amar e ser amado dá um baita de um trabalho, não é fácil mesmo. Assusta, amedronta, invade, corre-se o risco de se machucar, e ninguém quer sentir dor. Portanto fica mais fácil fugir, dizer que não quer, que está bem assim, que vive melhor sem esse tal de amor.
         Criar um mundinho particular para viver, deixar-se cair em ilusões, mentir é fácil. Encarar a realidade, ser verdadeiro, falar a verdade por mais ruim que ela seja é difícil, principalmente quando a vida não é tão cor de rosa quanto gostaríamos. Até ser solidário tá fácil, nessa era do compartilhar, é só apertar um botãozinho com imagens e frases impactantes e pronto, fiz minha parte. Mas, sinto informar-lhes, as crianças continuarão passando fome, os cachorros continuarão abandonados nas ruas, os velhinhos continuarão carentes em abrigos, as pessoas continuarão sofrendo em filas de hospitais, enquanto os políticos continuarão roubando milhões por dia. É, fazer a diferença está longe de ser negócio simples, dá um trabalhão. 
          Longe de mim querer dizer o que é certo ou errado, discursar o politicamente correto, pregar o falso moralismo, acho completamente compreensível queremos facilitar cada vez mais as coisas, já que a vida por si só já é tão complicada. Não imagino qual seja o caminho que devemos seguir, não sei qual é o certo, vou e volto o quanto for preciso, confusa em minhas decisões, sou passível de erros, não tenho medo de errar, tenho medo de repeti-los. Porém o que meus olhos conseguem enxergar é essa falsa felicidade, são sorrisos forçados escondendo noites mal dormidas, falta de carinho, dores crônicas e psicológicas. Não sei até onde conseguiremos chegar, continuando assim. Fingindo viver em um castelo encantado, quando o que mais queremos é gritar para o mundo, e para nós mesmos que precisamos sim um dos outros, que somos seres dependentes de amor. E como eu quero ter filhos, muito me preocupa o mundo que eles conhecerão.              




          Permito-me apenas acreditar que nem sempre o caminho que encontramos primeiro, e mais facilmente será o caminho a ser escolhido, que esse nem sempre será o mais feliz. Até porquê a vida não é feita apenas de doce, encontramos fases amargas, azedas e salgadas também, e é nessa mistura de sabores e sentimentos que alcançamos nosso crescimento pessoal, são justamente, essas experiências que tornam a vida mais gostosa. Porquê o caminho aparentemente, mais difícil, não necessariamente, será ruim, e pode até ser mais interessante. É preciso passar pelos obstáculos, tropeçar nas pedras, cair nos buracos, reerguer-se, olhar para frente e continuar. Na vida não temos apenas flores coloridas e passarinhos cantando, e esse é o grande prazer em se viver cada dia, enfrentando o que vier, e vencendo a cada dificuldade. Descobri que o medo, a preguiça, a insegurança, a imaturidade te prendem, te tapam os olhos, e te fazem escolher o mais fácil.Porém, ainda não descobri a fórmula da felicidade, quem me dera distribuir conselhos sábios e certeiros, podendo tornar esses sorrisos amarelos em pessoas felizes de verdade. Quem sabe um dia, depois de longos anos bem vividos...
        Está aí uma meta a ser alcançada, olhar no fundo dos olhos de todos que trocarem mesmo que poucas palavras comigo, viver de verdade, ser verdadeira, arriscar, me jogar, encarar os medos de olhos abertos, ser amiga de verdade, não me tornar um robô com tanta tecnologia, amar quantas vezes for necessário, acreditar no amor, nas pessoas, nos laços afetivos. Me dedicar, ser do bem, fazer o bem. Confiar, ser confiável. Me envolver, conhecer histórias, servir a quem precisar, distribuir carinho e palavras bonitas. Chegar ao final de cada dia, com a consciência de ter vivido, e não apenas existido. E assim, quando eu ficar bem velhinha, poder olhar para trás e permitir-me distribuir conselhos de sabedoria para a nova geração, e perceber que o caminho que eu escolhi não foi o mais fácil, mas sim o mais feliz, porquê a real felicidade está no caminho em que seguimos, e não onde pretendemos chegar, que ser feliz dá trabalho, mas que a recompensa vale a pena. 
        
        
        
       












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