sábado, maio 18, 2013

Ensaios. Sobre as brigas diárias e seus estragos.


Por Nathalia Moraes

     Brigar antes de dormir, naqueles três últimos minutos antes do beijo de boa noite, ou de manhã, saindo para o trabalho, naquela data especial que era para comemorar. Em alguns momentos a gente consegue reverter, tem tempo para isso, chama de lado, pede mais um minuto e consegue resolver. Mas em outros, aquilo fica tormentando a noite, vira para todos os lados e nada de achar uma posição confortável como a conchinha de todas as noites, não consegue focar no trabalho, digerindo tudo o que foi dito, guarda-se mágoas. Pura infelicidade, deve fazer um mal à saúde, se não, para o relacionamento com certeza faz. 
      Nem todo mundo consegue perceber, mas estas briguinhas diárias são como pequenos cacos de vidro, se você pisa um dia sofre um pouquinho, machuca de leve, se no outro você pisa de novo, a dor intensifica, mas ainda aguenta. Porém chega um dia que você não consegue mais suportar. É uma espécie de sentir o gostinho da separação, antes mesmo dela chegar, é uma sensação dolorosa de perda, recoberta por uma camada de fúria e indignação. Mesmo que alguma forma de reconciliação nos resgate, o dano está feito. Foi feito mais um ensaio para a separação.
       Quando essas brigas começam a se tornar frequentes, um belo dia, depois de mais um desentendimento, percebe-se que está pronto para virar a página e seguir sozinho. Mas não é isso que se quer.
        Há quem diga que adorar brigar, que curtem relacionamentos aos berros,  gostam da adrenalina, e de fazer as pazes depois. Particularmente, tenho medo de gente assim, qualquer energia negativa não me traz nenhum sentimento bom. Os que conheci desse tipo, se cansaram e se entregaram a calmaria.
        Claro que ninguém é um monge budista para conseguir viver cem anos sem uma discussão. O convívio, a rotina, as diferenças tudo isso causa alguma forma de energia ruim que precisa ser liberada de alguma forma, em algum momento. É necessário e saudável impor limites, gostos e desgostos, mas sabemos como fazer isso de forma tranquila.
        E sim, algumas brigas fazem-se necessárias, principalmente aquelas por valores pessoais e intangíveis, por desrespeito enfim, entende-se. O que não podemos é fechar a cara e dormir brigado por motivos que poderiam ser acertados com um pouquinho mais de paciência. Isso gera um desgaste irreparável na relação. A nossa natural inclinação à ternura, vai sendo sabotada pela raiva, até que o coração paralise. Até que o tom carinhoso para de acompanhar a voz, e o toque. Até que os olhares não se encontram e não se reconhecem mais. Não há ternura, tampouco admiração e cuidado. Mas não é isso que queremos. Portanto é mais fácil evitar, do que tentar reparar o estrago.
        Muito melhor é tomar as mãos dela nas suas e dizer coisas baixinhas, sem perder a calma e a doçura, sem dar espaço para o desamor e o desafeto. Muito melhor conversar tranquilamente, numa boa, e no final abraçar forte até pegar no sono. 
         Lembre-se: Não fomos feitos para o atrito, na intimidade, somos apaixonados e afáveis. No nosso interior jazem sentimentos de infindável doçura. A raiva existe, mas é apenas parte do que nos reveste, e não do que somos de fato, nem do que queremos receber. Vira e mexe temos de exibi-la, mas lá dentro, nossa real substância é a outra, contrária. Internamente não queremos brigar, muito menos sofrer.
         Portanto, para que possamos evitar que estes ensaios aconteçam, a dica é simples: evitem o máximo que puder estas briguinhas, transformem-na em conversas inteligentes e recompensadoras e jamais, sob hipótese alguma, durmam brigados. Não desperdicem o melhor que a vida a dois proporciona, uma noite bem dormida, agarrada ao seu amor, com a certeza de que amanhã ele continuará.
        

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