terça-feira, dezembro 13, 2011

Te ligo amanhã!


Por Nathalia Moraes


          Nunca fui muito ligada a essas regras bobas de como-ser-uma-moça-para-casar, na verdade casamento para mim é loucura, como se prender a uma única pessoa nesse mundo, pelo resto da vida? Sim, resto da vida, porquê se eu fosse casar, não dispensaria um centímetro de véu, seria daqueles de princesa mesmo, como manda o figurino, e esse evento não custa pouco não, além de toda a mudança, enfim... casar, só se fosse com a certeza de que seria para sempre, como não tenho essa certeza prefiro continuar no grupo das solteironas convictas. 
          Saio quando quero, e quero quase sempre, bebo mesmo, danço até o pé gritar, volto para casa a tempo de dar bom dia ao porteiro, uso as roupas que me deixam linda, mesmo que a saia seja mínima e o decote máximo. Me envolvo com caras lindos, e sempre que algum me interessa muito eu convido para subir sim, sem preconceitos ou insegurança. O corpo é meu, e se eu não tiver o direito de fazer com ele o que eu bem entender, eu não sei mais o que eu posso nessa vida. 
           Sou feliz assim, acontece que ultimamente tenho sentido falta de algo a mais, algo que me desperte uma felicidade, tipo aquelas ao acordar achando que está atrasada para trabalhar, e perceber que é sábado e poder voltar a dormir, sabe? Sentindo falta de ficar em casa vendo filme abraçadinho, que é diferente de ver comédia romântica comendo uma panela de brigadeiro na tpm, sentindo falta de receber mensagem no meio do trabalho de alguém que já está com saudade,que  é diferente do que receber mil mensagens das amigas chamando para balada.
           Era isso, eu precisava de alguém sim, precisava dar um tempo nessa vida noturna, arrumar um namorado talvez. E numa dessas conversas com uma amiga ela me disse que mulher fácil não é levada a sério, que se a gente quiser que o cara ligue no dia seguinte, devemos segurar nossas pernas bem fechadinhas por bastante tempo.E que eu estava me envolvendo com caras errados, que deveria buscar por homens mais responsáveis, mais sérios, que bebessem menos e que me respeitasse.
           Na hora achei aquilo uma babaquice sem tamanho, parecia uma mulher da década de 30 falando, ri e desconversei, mas confesso que quando fui dormir, fiquei pensando nisso, fazia tempo que um cara não me ligava no dia seguinte, eles até diziam que iam ligar e não ligavam, mas eu não me importava com isso e eu mesma ligava se me interessasse, mas isso funcionava até começar a sentir falta de alguém que me leve no almoço da família, no domingo. Talvez o discurso retrô da minha amiga fizesse algum sentido. Acordei decidida a receber a bendita ligação-do-dia-seguinte. 
            Aquela minha amiga me apresentou um conhecido dela, pelo facebook, bonito o moço. Começamos a conversar, trocar mensagens, e isso foi rolando durante dias, até ele me chamar para jantar. Não me lembro de ter ficado tão tensa em uma situação dessas, há muito tempo. Quase morri louca para decidir a roupa, a maquiagem o cabelo, me senti uma adolescente rumo ao primeiro beijo. Será que eu ao menos beijar, eu já podia? 
             Lá fui eu, dentro de um vestidinho rosa apagado, com centímetros a mais e decote a menos, sapatilha de laço e quase nada de blush, no melhor estilo moça-para-casar. Não me reconheci olhando no espelho, mas fui. O moço era realmente bonito, bem vestido, inteligente, educado, pagou a conta. Nossa! Vou pedir para casar. O jantar foi uma delícia, e no caminho de volta só pensava em como finalizar aquele encontro, acabei dando um selinho e saindo do carro as pressas. Para tudo! O que foi aquilo? Dormi rindo da minha cara, perfeito para uma menina de quinze anos namorando na pracinha. 
             Continuamos nos falando pela internet e saímos mais algumas vezes. Eu sempre recatada, fazendo a linha só-tive-dois-homens e só-vou-para-cama-depois-do-quinto-encontro. E foi exatamente assim que tudo aconteceu, depois de alguns encontros, beijos e apertões não muito calientes, o tão aguardado aconteceu. Ele se convidou para subir, passamos a noite juntos  e logo de manhãzinha ele foi embora. Antes de entrar no elevador ele me disse: "Te ligo amanhã!". Me senti vitoriosa, tudo bem que não foi tão gostoso quanto estou acostumada, mas ele me ligaria, claro que ligaria, e era isso que importava. Fui uma dama, delicada, educada, realmente uma mulher-para-casar, passei o dia querendo que o amanhã chegasse logo só para ter o prazer de ver o nome dele chamando no meu celular. 
              Acordei tarde, já achando que teria uma ligação dele, mas ainda não. Fiquei o dia todo com o celular na mão, mas claro que ele deixaria para me ligar a noite. Não, ele não me ligou, não me mandou mensagem, consegui ficar esperando uma ligação a semana toda. Não que eu estivesse apaixonada, era mais aquele orgulho mesmo. Ele tinha que me ligar, eu fiz tudo certinho, mas ele não me ligou. Eu só queria saber o que eu tinha feito de errado, mas não estava disposta a perguntá-lo, então preferi deixar essa história de lado e voltei a ser a boa e velha eu mesma. 
              Mesmo continuando a sentir falta de alguém ao meu lado, não deixaria de ser quem eu sou, apenas pelo motivo de fazer com que alguém resolva se encantar com a bela mocinha, que definitivamente não faz parte de mim. Voltei para minha vida noturna, para minha mini saia, para o meu macro decote, voltei para minha maquiagem, para o meu salto, minhas bebidas e minhas chegadas para o bom dia ao porteiro. 
              E em uma dessas noitadas, quem eu encontro depois de meses? Sim! O moço que eu fiquei esperando me ligar, e já com algumas doses de vodka no sangue, fui falar com ele, que me recebeu com um sorriso aberto e com a típica frase de quem some: "Tá sumida!". Nessa hora eu bem quis jogar o conteúdo da minha taça no rostinho lindo dele, mas me contive a uma boa gargalhada, seguida de um discurso sincero, contando que fiquei esperando ele me ligar durante uma semana. Não foi cobrando uma resposta, mas eu tinha curiosidade de saber porque raios ele não me ligou se eu tinha seguido a risco a cartilha das boas moças. E ele rindo sem parar me respondeu: " Sinceramente, te achei uma chata!". Gente, não há bebida que segure o queixo da pessoa, com uma sinceridade dessa. Minha cara foi no chão. Mas eu queria ouvir mais. E ele me dizia: " Não é por mal, mas no primeiro encontro eu já sabia que não te ligaria depois, independente do dia que você me convidaria para subir. E no seu caso, estava claro que para rolar alguma coisa, precisaríamos nos encontrar algumas vezes. Foi isso que aconteceu. Não importava se você iria para cama comigo no primeiro ou no quinto encontro, aliás quando eu vi que tinha esse desafio, eu só quis concluí-lo. Homens são assim. Posso estar perdendo a chance de te conhecer melhor, mas essa é a verdade."
           Qualquer mulher que "se valorize", iria embora na mesma hora. Mas, meu bem, eu não estou interessada nesses padrões de valores impostos, não. Fiquei, fiquei porquê mesmo chocada com tanta sinceridade, ele tinha sido verdadeiro, jogou limpo, e quem fingiu primeiro fui eu. Passamos horas conversando e rindo dessa história doida, e entre uma bebida e outra, mais outras histórias doidas que decidimos contar ao outro. Saímos de lá e fomos para a minha casa, e já que aquela menininha certinha estava longe de mim, o convidei para subir. Fui o que eu sou, sem máscaras e santidade. 
            Pareço estar ouvindo as moças-para-casar me condenando: "Depois de tudo que ele fez e disse, você ainda deu para ele. Ó céus, que absurdo! Depois reclama que o cara não liga". Foi o que aquela minha amiga me disse quando ouviu o que eu contei. É, amiga e caras mocinhas do meu Brasil, me desculpem pelo não valor que eu dou a mim mesma, mas a noite foi incrível, diferente daquela primeira, onde estávamos os dois presos a ideias ultrapassadas e preconceituosas, dessa vez foi diferente, leve, livre e delicioso. Tomamos um café rápido na padaria da esquina e nos despedimos. 
             Ele não disse que me ligaria amanhã, e eu não fiquei esperando que ele me ligasse. Mas, para a nossa surpresa, recebi uma mensagem dizendo: "Não disse que ligaria amanhã, porquê quero te ver ainda hoje!". Depois disso, parei de sentir falta da ligação do dia seguinte, dos filmes abraçadinhos, do almoço de domingo com a família, das mensagens ao longo do dia, parei de sentir falta de alguém, porquê ele estava comigo.           
             Ah, vida! Sempre me surpreendendo e ensinando. Não adianta, menina, não é o tempo que você demora para convidá-lo a subir que vai fazer com que ele te ligue no dia seguinte. O que determina isso é quem você foi no tempo em que estiveram juntos. Se ele realmente tiver gostado de você e sentir vontade de te ver, ele não vai ficar com essa birrinha de criança (ao menos que ele seja uma), pensando se você foi fácil ou não, ele simplesmente vai te ligar!
            

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