quarta-feira, maio 16, 2012

Hoje eu desejo um amor facinho para mim


Por Nathalia Moraes



      De todas as teorias e regras criadas nessa vida, a que mais me intriga é aquela em que diz que só damos valor àquilo que é difícil. Há quem acredite que para algo ser bom, devemos lutar para conseguir, deseja-se que haja esforço para que valha a pena e que tudo que nos vem facilmente, vai embora da mesma maneira. Acredita-se ainda, que essa regrinha é cabível em tudo que fazemos, seja no trabalho, no esporte, na escola e até mesmo nos relacionamentos amorosos - só esquecemos que nesse último caso, regras não sã bem vindas. 
       Essa teoria nos faz classificar as pessoas a nossa volta, se a mulher demonstra que está interessada, não fica acomodada esperando que o cara vá até ela, se ela responde aos sinais, sem colocar barreiras no meio do caminho é uma mulher fácil. Se fosse boa, não me daria esse mole. Se o cara decide deixar a casca dura de lado e dispensa os joguinhos de orgulho na conquista, se ele fica atrás, pronto, perde-se a graça. Porque vivemos querendo aquilo que não temos? 
       Fomos treinados ao combate, a nos sacrificar para conseguir aquilo que se deseja. Vivemos numa sociedade que preza o suor, que enaltece aqueles que sofrem antes de alcançar seus objetivos. E quando o assunto é a vida afetiva, agimos como se houvesse a necessidade de exibir nossas conquistas no jantar da família, de mostrar aos amigos os troféus expostos nas prateleiras. Só falta andarmos com uma medalha de "honra ao mérito" pendurada no peito. Porque lutamos e vencemos. Exaltamos o que nos causa inquietude e por muitas vezes, até o sofrimento.
       É daí que vem a minha discordância sobre o tema e me sobram questionamentos: o quanto devemos insistir em obter respostas recíprocas de pessoas que pouco demonstram interesse em retribuir os nossos sentimentos? O que de tão vitorioso tem, em dedicar-se a alguém que aparentemente, pouco importa-se conosco?
       Enxergar o amor como um campo de guerra, ou um caminho cheio de obstáculos, e só conseguir visualizar um final feliz assim, soa masoquista demais aos meus ouvidos. Optar pelo caminho mais esburacado, pelo simples fato de ter buracos, ao invés de seguir por uma estrada branda e plena não me parece a escolha mais sábia. 
       E posso explicar, a culpa está nessa mania que temos em querer premeditar as coisas, em boicotar algo que poderia acontecer naturalmente, é tentar prever como o outro vai reagir se fizermos assim ou assado, e acabar se perdendo no meio do caminho. Jogamos fora grandes chances de conhecer pessoas incríveis, simplesmente por estarem visivelmente interessadas, ou por querer criar um obstáculo desnecessário no meio do natural. 
       Sempre vou preferir pessoas de verdade, sem vergonha de ser o que são, pessoas que não esquematizam o que devem falar ou como devem agir, aqueles que demonstram sem medo o que sentem e o que querem. Clareza nos gestos, nas palavras e nas atitudes. Posso estar enganada, mas essas são características facilmente encontradas naqueles que possivelmente, classificaríamos como fácil e acabaríamos dispensando. Não parece infantil demais?
       O risco que se corre em admirar tanto o difícil, é acabar transformando aquele interesse inicial em orgulho de amor próprio em demasia. Como se fosse questão de honra transformar um não em sim,  e aí meus caros, deixa de ser sentimento puro, distancia-se do que é o amor, a motivação que você encontra em continuar insistindo naquilo, deixa de ser interesse pela pessoa, e temos então, alguém interessado apenas pela dificuldade. Muitas vezes até, escalando um muro que mal sabe-se o que tem do outro lado, quebrando a cara ao perceber que não era tudo aquilo que imaginara. 
       Além do que, aquela história de vencer pelo cansaço não me agrada nem um pouquinho, acredito que seja complicado começar algo que seja bom, porque cansou da situação anterior. É dar mais valor ao processo do que ao resultado. Quando pouco deveria importar quem sorriu primeiro para quem. Porque o valor de algo parece atrelado muito mais ao quanto você precisou sofrer para conseguir do que a qualquer medida de qualidade que seja inerente ao objeto.
       Já o amor fácil, por outro lado, não tem preço, é amor de graça. Não há outro interesse que não seja apenas o amar. A pessoa simplesmente gosta de você, sente aquilo e sorri, e te diz, e demonstra. Recebe-se amor puro, é ser gostado por aquilo que se é, você não precisou fazer propaganda de si, não precisou preocupar-se em dizer ou agir de alguma maneira que cause interesse no outro, ele simplesmente se interessou, sem que você precisasse inventar histórias, ou rastejar-se, muito menos vencê-lo pelo cansaço. Ele está ali por vontade de estar, apenas por te querer, facinho para que você aproxime-se e permita-se conhecê-lo - sem julgar ou classificar - ele te espera e te recebe de braços abertos. Os amores facinhos são assim, leves e naturais. Nenhum dos lados estão cansados, pelo contrário, estão dispostos e cheios de vontade de dedicar-se, podendo tornar o caminho bem mais gostoso e apaixonante. Existe beleza, verdade e entrega; e para mim, isso sim tem valor. 
         Afinal, o que pode ser melhor que ser amado e desejado por aquilo que se é - sem enrolação e truques de joguinhos de sedução? Para quê dificultar o que podemos viver de forma simples e tranquila? Fico me perguntando qual o prazer que se tem em perder tempo de ser feliz vivendo lindas histórias com outras pessoas? Qual é a graça em adiar o que, talvez possa ser o melhor beijo e até quem sabe, o encontro do amor da sua vida? 
         Para terminar, vale a pena parafrasear Shakespeare quando percebeu que: "Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor". E assim vou terminando, e o que eu desejo hoje, é um amor bem facinho para mim. 
       
       
       

        
       
       
       



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