segunda-feira, setembro 10, 2012

Promete, mamãe?


Por Nathalia Moraes

      Tô com a nossa foto na mão, aquela que eu tô no seu colo, apoiada em seu peito, sorrindo tímida porquê tinha muita gente me olhando quando tiramos. Você costumava dizer que eu era safada, mas quando tinha muita gente olhando, corria me esconder por trás da sua saia. Tô olhando pra ela e lembrando. Talvez você não se lembre, afinal já passei dos cinco anos faz um bom tempo, apesar de ainda sentir vontade de me esconder em você quando alguma coisa me envergonha. 
      Encontrei perdida na sala de casa, e me deu uma saudade daquele tempo, tô aqui relembrando tudo que a gente já viveu nesses anos todos. Quer dizer, anos não... nessas vidas todas, porquê sei que nosso amor é antigo, te escolhi e não é de hoje. E não é que acertei? E já vou logo avisando, na próxima estaremos juntas também. Já tô avisando agora, que quantas vezes for preciso, te escolherei, pode ir se preparando que a gente ainda tem muito o que viver. Mas disso a gente pode conversar depois né? Afinal ainda temos esta aqui para você me aguentar te chamando de cinco em cinco minutos. 
      Você tá sorrindo tão linda, pareço ouvir sua risada rouca depois do flash disparado, tirando sarro de mim, que parecia um bichinho do mato. Você e essa sua mania de querer rir da minha cara. Acho que puxei você, também quero ser assim. Falando nisso, tava aqui pensando: "-Que bom seria se eu for metade do que você é." Talvez ainda dê tempo se eu me esforçar bastante, né? Você pode me ajudar sim, porque eu ainda preciso de você. Não se faça de desentendida, não. Posso até não ser mais aquela menina magrelinha da foto, mas eu ainda preciso do seu colo, e do seu cheiro e da sua risada depois que a tempestade passar. 
      Não sei o que tá passando na sua cabeça agora, mas na minha... Ah! Queria que saísse um balão agora, só pra gente ficar assistindo, sem precisar falar nada. Tem tanta coisa aqui, e aqui no peito também, aqui tem um nó apertado - daqueles de quando aprendi amarrar o tênis sozinha - tem nó, mas tem sorriso largo no rosto ainda, e olha que esse tá difícil de sair. Tá aqui só te esperando, mas não precisa ter pressa tá? Tirei a pilha do relógio, os ponteiros girando apressados estavam me incomodando, parei de medir nosso tempo assim. Um dia tem bem mais que 24 horas, um dia hoje é uma vida, e eu quero que passe bem devagarinho pra gente aproveitar todos os segundos dele. É bom te ter aqui. 
      Eu já te disse obrigada hoje? Se não disse deveria ter dito, porquê só eu sei o quanto você faz por mim, né? Mas é que eu poderia ficar aqui te agradecendo e agradecendo e agradecendo, e ainda assim seria pouco. É, eu sei que é clichê, mas o que eu posso fazer se você é a melhor mãe do mundo e eu sou a filha mais grata? 
      Me dá sua mão, eu gosto assim, gosto de ficar olhando para as nossas mãos cruzadas, e olha só como a vida é engraçada, né? Eu não via hora de soltar pra poder atravessar a rua sozinha, e ir viver ali do outro lado pra mostrar que cresci, agora eu só quero voltar, voltar aqui pro seu lado e segurar a sua mão bem apertado e não soltar mais. 
      Não quero que se preocupe, tudo está bem, pode até ser que não esteja tão fácil assim, mas e se a gente abrisse um livro e eu te contasse uma história? Era uma vez... você vai ficar bem, e eu também. Vamos esquecer um pouquinho o que andam dizendo por aí, a conversa agora é só entre você e eu. E eu quero assim, quero que você feche os olhos e acredite, força mulher, respire mais um pouquinho e acredite, tudo vai passar. Pensa no quanto é bom ficar aqui, você e eu. Vamos ficar mais? Eu prometo que vou distribuir melhor meu tempo e achar mais horas para nós, e você? Ah! Você só se preocupe em acreditar. Deixa que o resto a gente faz. Mas me promete que ainda acredita?
      Eu tenho um aliado, um cúmplice, acho que fiquei mais próxima dele nesses últimos tempos, confesso que discuti, porquê a gente custa a aceitar alguns caminhos que Ele dá para nós né? Mas no fim eu sei que vai ficar tudo bem. Você continua acreditando, né? Não vai desistir agora, estamos juntas, não estamos? Então vai, olhe para mim, pode ser até de olhos fechados, eu estou aqui e você também, podemos continuar assim. 
      Vamos fazer uma aposta? Vamos, vai. Eu sei que você nunca foi fã de apostas, mas é só essa. Eu aposto que a gente vai conseguir mais essa, pensa em quantas já foram. Temos mais essa para ganhar. Eu prometo que não largo sua mão, e você me promete que não vai deixar de acreditar. Que tal? Já está valendo. 
       Não pensa em mais nada, vamos ficar quietinhas agora. Já conversamos demais, mas é que eu não me canso nunca das nossas conversas, mas agora é hora de descansar. Se eu eu tenho medo? É pecado mentir, né? As vezes, quando me distraio. Mas é só as vezes, você não precisa ter, tá? Não era você que me dizia que quando a gente enfrenta o medo ele fica pequenininho que até desaparece? Então, estamos juntas não estamos? Que medo é maior que isso? E é assim que ficaremos, de mãos e corações entrelaçados, e não há distância que mude isso, e não há nada que mude isso. Eu prometo, se você me prometer que acredita, é só disso que a gente precisa agora. Promete, mamãe?
      

      

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