quarta-feira, março 07, 2012

Ser mulher



Por Nathalia Moraes

    Se me perguntassem hoje o que significa ser mulher, talvez eu não soubesse responder assim com tamanha exatidão, talvez eu tivesse que parar um tempo e pensar, buscar no interior do meu interior uma resposta, se é que há uma, para a imensa confusão de ser mulher. 
       Como traduzir em palavras a beleza de hormônios tão alteráveis? Como listar as milhares de sensações que conseguimos sentir em menos de um minuto?  Como explicar que a doçura e a rispidez podem dar tão certo juntas? Como é ser mulher?
       Ser mulher é ser a princesinha da família mesmo antes de nascer, é carregar essa faixa no peito mesmo preferindo brincadeiras de menino a bonecas de pano, é pegar sapato alto e maquiagem da mãe escondido para brincar de ser mulher. 
       Ser mulher é cuidar, cuidar das bonecas, cuidar dos bichinhos, cuidar de si, cuidar da saia quando senta, cuidar do irmão quando os pais viajam, cuidar dos pais quando precisam ser cuidados.
       Ser mulher é crescer cheia de limitações, é fazer algo que consideramos normal e ouvir "isso é coisa de menino", é escrever cartinha de amigas, é a ansiedade de comprar o primeiro sutiã, é o querer se tornar "mocinha" logo, é achar que vai morrer de amores quando conhece a primeira paixãozinha, é a espera apressada em se tornar mulher.
       Ser mulher é aprender a ser forte, mesmo sendo taxada de sexo frágil, é enfrentar a dor da cólica, conhecer a depilação e a depilação da virilha. 
       Ser mulher é se preocupar com o que os outros vão dizer, e em seguida perceber que não precisa se preocupar com isso se não quiser. É ter vigias em todos os cantos do mundo, é ser apresentada ao ciúmes pelo pai, pelos irmãos ou pelos primos ciumentos. 
       Ser mulher é achar os meninos da mesma idade bobos e desejar os mais velhos, depois achar os mais velhos, velhos e os mais novos interessantes, depois repetir sem parar que são todos iguais. 
       Ser mulher é ver o salão de beleza como segunda casa, é ter de escolher entre "Preguicinha", "Toque de ira", "Santa Gula", "Gabriela", "Gabriele", "Deixa Beijar", "Cintura baixa", "Rosa pink", "Pink flúor", "ou o bom e velho "Renda".
       Ser mulher é receber um convite inesperado e irrecusável em uma segunda-feira desprevenida e conseguir tomar banho, depilar, fazer escova, maquiagem, unha, escolher roupa, trocar de bolsa, trocar de roupa de novo, reclamar que não tem roupa, colocar a primeira, retocar a maquiagem, prender o cabelo, subir no salto, soltar o cabelo, passar perfume, piscar pro espelho e ainda ouvir reclamações de que está atrasada.
       Ser mulher é viver em constante luta. É lutar contra a tpm, lutar contra a balança, lutar contra o telefone, lutar contra o cartão de crédito, lutar contra o sexo no primeiro encontro, lutar contra o futebol do domingo, lutar contra o cabelo e ainda ver luta com o namorado no sábado a noite.
       Ser mulher é chorar em comercial de margarina, chorar porquê ele foi grosso, chorar sem saber porque está chorando, é se irritar com a respiração do outro, é se enxergar com 190kl na frente do espelho, é devorar uma barra de chocolate, é não se aguentar, é ter vontade de matar qualquer um que atravessar seu caminho, é ter amostra grátis de parto e ter de trabalhar assim, é sobreviver a tpm e ainda ouvir que é frescura. 
       Ser mulher é viver por amor, é esperar príncipes encantados em cavalos brancos, é beijar sapos, é encontrar apenas cavalos, é desistir dos príncipes, é se apaixonar no primeiro oi e escrever o sobrenome dele no final do seu para ver se combina, é imaginar todos os detalhes do casamento, e depois de algumas desilusões desistir dessa besteira de casar, até se apaixonar de novo. É imaginar a casa, os filhos, os cachorros, a cor do sofá, e se matar para não demonstrar nada disso. É ter sexto sentido aguçado e imaginação a mil. É ter ciúmes da amiguinha dele mesmo. 
       Ser mulher é mandar noventa SMS e desejar que ele responda todos, rápido. Ser mulher é ficar chateada quando ele esquece a data do primeiro encontro, virtual. Ser mulher é ficar carente as vezes, é desejar sempre mais atenção, e mais um pouquinho. É querer beijo, abraço, carinho sem que precise ter sexo depois. É querer sexo depois e ficar sem jeito de falar. 
       Ser mulher é viver em dúvida, dúvida em roupa, em sapatos, em ligar ou não ligar, em dar ou não dar, em falar ou não falar, em ter atitude ou se fazer de santa, é seguir o coração ou a cabeça, é seguir suas vontades ou se fazer de difícil. Ser mulher é viver em um constante diálogo mental sozinha. 
       Ser mulher é ligar para melhor amiga quando tá mal, quando tá bem, quando não tem nada para fazer, é querer sempre um conselho, aconselhar, é se unir para falar mal dos filhos da puta que não dão valor, comendo brigadeiro, vendo comédia romântica e chorando no final.
       Ser mulher é ser mãe, desde pequena, é entender o significado do amor incondicional, é  amar mais que a si mesma, é ser forte, determinada, guerreira, profissional, é ir a reunião da escola, é ajudar a fazer a tarefa, é preparar sempre um lanchinho, é ser esposa, companheira, ser base, é segurar as pontas quando o tal do sexo forte enfraquece, é estar sempre presente, é insistir na família, é parar de pensar no singular e viver no plural. É ser dona de casa, dona do trabalho, dona da vida. 
       Ser mulher não é fácil, é complicado, é trabalhoso, é confuso, mas apesar de tudo, ser mulher é lindo, é gratificante. Ser mulher é trazer em si a capacidade de deixar tudo mais bonito. 
      Que sejamos mulheres, cada vez mais determinadas, independentes, firmes, donas, respeitáveis, exigentes, mas que nunca deixemos de ser mulheres, que nunca percamos a essência, a feminilidade, o charme, a beleza de ser mulher. Que entendamos que mesmo nos tempos atuais, onde exigimos tanta igualdade, que isso não nos transforme em homens do sexo feminino. Que tenhamos orgulho de ser mulher, com a nossa sensibilidade, com nossas carências, com as nossos choros, com os nossos amores, assim como somos, com jeitinho de mulher. 
     Vamos parar com essa guerra dos sexos mais infantil, já conseguimos mostrar que somos, importantes no mundo, já ocupamos o cargo máximo no país, já queimaram os sutiãs por nós, agora podemos voltar a nos orgulhar de nossas lingeries. Isso não nos tornará menos competentes, não perderemos nada do que conquistamos, continuaremos lutando contra o que vai contra nós, porém não precisamos deixar para trás nossa feminilidade, e todo esse mistério que há no significado de ser mulher. 
     A todas as mulheres, exemplo de mulher, minha homenagem!
       
       
       

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